
No ensino médio, aprende-se que os dendritos são parte dos neurônios, mas as células dendríticas — por mais que o nome seja parecido — não têm relação direta com eles.
As células dendríticas fazem parte da resposta imunológica. Elas têm diversos receptores na superfície responsáveis por reconhecerem outras moléculas, incluindo os antígenos — que são as pertencentes ao patógeno. “Ela, então, processa esse corpo estranho e o apresenta para o sistema imune reconhecer e combatê-lo”, explica a professora Silvia Beatriz Boscardin, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Proteína STAT3
Existe uma família de proteínas chamada STAT (Signal Transducer and Activator of Transcription, em português Transdutores de Sinal e Ativadores de Transcrição) e, entre elas, a STAT3. A função dela envolve o conceito de cascata e um exemplo famoso é a “cascata da coagulação”, na qual uma série de proteínas vão sendo ativadas para atingir um objetivo que é formar um coágulo. Mas, quando se fala da STAT, o processo ocorre dentro da célula e seu objetivo é ativar a resposta imune.
Por mais que seja considerada um componente acessório, é preciso entender como o mecanismo que a inclui funciona. A descoberta das células dendríticas ainda é bem nova — Ralph M. Steinman, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2011, foi quem as descobriu e detalhou sua capacidade de ativar e regular as fases finais da resposta imunológica —, o que torna o entendimento das relações da STAT3 com elas ainda mais recente.
“A nossa questão era: O que aconteceria se a gente retirasse a STAT3?”, explica Silvia.
Processo
A pesquisa foi realizada em camundongos que foram gerados por meio do cruzamento de indivíduos em que foi possível retirar a proteína STAT3 unicamente das células dendríticas. Quanto aos anticorpos, foram utilizados dois monoclonais, ou seja, responsáveis por mandar o antígeno de interesse, que foi o Plasmodium vivax, causador da malária, no caso, para os dois subtipos de células dendríticas: cDC1 e cDC2.
“O anticorpo que a gente usa é quimérico, em homenagem à quimera, o monstro mitológico híbrido de dois ou mais animais. Ele é uma parte rato, uma parte camundongo e uma parte o patógeno de interesse”, acrescenta a professora.
O anticorpo não é nada mais do que uma forma de entregar o antígeno à célula dendrítica para, ao processar, ela apresentá-lo ao sistema imune. Nos experimentos, a infecção foi mimetizada pela presença do Poly (I:C), que é um imunoestimulante que simula essas situações, sobretudo infecções virais.
Importância
Segundo Silvia, ainda não há uma aplicação para a pesquisa, mas ela explica que com ela “conseguimos medir de maneira muito eficiente o que for necessário para induzir uma resposta específica quando direcionada para a cDC1 e cDC2. Isso é ciência básica”. A partir disso, a professora acrescenta que é possível desenvolver estratégias, como a vacinação, mais eficientes.
Por exemplo, a cDC2 produz uma resposta de anticorpos muito boa. Então, no caso de uma doença em que o braço de anticorpos é muito importante para bloqueá-la, é melhor ativar mais a cDC2. Se for uma doença como a Leishmaniose, doença de Chagas, que têm uma dependência muito grande de uma resposta pró-inflamatória para controlar a doença, seria melhor a cDC1. “Sabendo disso, você consegue modular melhor as respostas imunes para tornar o desenho de vacinas mais eficiente”, diz a professora.
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