Oficinas de ciência para as crianças despertam vocações científicas

Morador da São Remo visualiza célula vegetal pelo microscópio. Foto: Luana Takahashi

Professores e estudantes da Faculdade de Odontologia (FO) da USP estiveram presentes para uma ação na comunidade São Remo, próxima à Universidade, no início de setembro deste ano. A visita levou oficinas científicas para o local e faz parte do projeto Experimentando Ciência, uma parceria entre a FO e algumas escolas públicas da capital paulista. Durante uma tarde inteira, crianças e adultos participaram de atividades que ensinavam ciência de forma divertida e descontraída, na sede da Associação dos Moradores.

Pesquisadores da USP junto com alunos da rede pública de ensino apresentaram as oficinas para as crianças da São Remo, em uma iniciativa envolvendo três setores: a academia, o ensino básico e a sociedade. A importância de escovar os dentes e lavar bem as mãos, e como os microrganismos se proliferam na ausência de uma boa higiene foram alguns dos assuntos. Ovos, que contêm cálcio em sua composição, assim como os dentes, foram usados para ilustrar como o flúor age na proteção da boca. 

Crianças aprendem o modo correto de fazer a escovação. Foto/Luana Takahashi

Os moradores também conseguiram entender o trabalho de um “detetive científico” ao tentar identificar uma pessoa pela sua arcada dentária, deparando-se com princípios da radiografia bucal e com uma especialidade da odontologia: a forense. Além disso, os participantes extraíram o DNA da banana com ingredientes simples, vinagre e bicarbonato de sódio. Ao final, o material genético pôde ser visto à olho nu, um conceito até então abstrato para a maioria dos presentes.

Crianças aprendem o modo correto de fazer a escovação. Foto: Luana Takahashi

Microscópios foram levados para a comunidade, o que, por si só, foi um ponto de atenção para as crianças, explica Nilson Neto, doutorando da FO. Por meio do equipamento, elas puderam enxergar a célula vegetal da cebola e também a manifestação oral da bactéria responsável pela sífilis, doença sexualmente transmissível. A oficina explicitou alguns procedimentos que geralmente fazem parte da rotina de um laboratório.

O projeto Mostre a língua Brasil, da campanha latino-americana de prevenção do câncer oral, também esteve presente na ocasião. No Brasil, ele é coordenado pela professora Camila de Barros Gallo da Faculdade de Odonto, que levou à São Remo uma conscientização a respeito do cigarro e seus efeitos para a saúde. 

Futuros cientistas 

Todos os anos, desde 2015, o projeto Experimentando Ciência permite que alunos do ensino básico visitem a Faculdade de Odontologia e vivam um dia como cientistas, explorando os laboratórios e aprendendo um pouco sobre pesquisa e ciência. A visita à São Remo é um exemplo de desdobramento do programa, que anualmente visa desenvolver uma ação como resultado dos trabalhos. 

Alunos da Escola Municipal General Euclydes de Oliveira Figueiredo, ensino básico, tiveram a oportunidade de apresentar as oficinas ao lado dos pesquisadores da USP para as crianças que moram na São Remo. Ou seja, trata-se de um ciclo de passagem de conhecimento entre as gerações. Os futuros cientistas foram orientados pela professora Isabel Cristina Ferreira da Silva, uma das líderes da iniciativa, que destacou a dedicação dos alunos no processo.

Alunos da rede pública junto com os pesquisadores da USP. Arquivo Pessoal/Luana Takahashi

“O mais legal é termos essa parceria com os alunos do ensino fundamental, pois são conteúdos que eles estão tendo no currículo escolar e, ao mesmo tempo, podem aplicar os conhecimentos com as oficinas”, avalia o doutorando Nilson Neto.  Os pós-graduandos e alunos de iniciação científica da Faculdade contribuem para o projeto, que é coordenado pelos professores Ana Estela Haddad e Marcelo Bonecker, e pela mestre e doutora pela USP, Deise Garrido.

De acordo com a professora Maria Cristina Pereira, da Escola Theodomiro Dias, uma das idealizadoras do Programa, a parceria entre o ensino superior e o básico é essencial, e espera que isso possa ser modelo para outras iniciativas. “Oferecendo oportunidades, os alunos encontram um ambiente propício para se desenvolverem”, comenta. Para a professora, a divulgação científica serve para espalhar o conhecimento, principalmente para as comunidades, que geralmente estão distantes dos polos científicos. “A ciência sem divulgação perde seu sentido”.

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