Pesquisa utiliza DNA ambiental para monitoramento do coral-sol

Técnica possibilita a identificação precoce de espécies exóticas que ameaçam diversidade biológica

Imagem: Reprodução/Instituto de Biologia Marinha Bióicos

De acordo com o Banco de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, do Instituto Hórus, o Brasil abriga mais de 400 animais e vegetais classificados nessa categoria. A presença deles ameaça significativamente a biodiversidade nacional, uma vez que gera competição por recursos, deslocamento da fauna, diminuição ou até mesmo extinção das espécies nativas. 

Uma espécie considerada exótica quando se encontra fora de seu ambiente de origem, de seu habitat natural. Porém, quando ocorre uma proliferação descontrolada deste organismo, que ameaça a diversidade local, este é classificado como invasor.

Uma resposta a essa problemática é o monitoramento da diversidade biológica e, nos ambientes marinhos, técnicas de identificação de espécies utilizando o DNA ambiental são uma peça chave. “Você coleta uma amostra e aquilo te dá um retrato do que está ali debaixo da água”, afirma Kátia Capel, pesquisadora e bióloga marinha do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar-USP), que estuda a proliferação do coral-sol (Tubastraea spp.), uma espécie invasora, na costa brasileira.

O que é o DNA ambiental?

Ao interagirem com o meio, os organismos deixam “rastros”, sejam células mortas, restos de tecido, muco, fezes, e por meio da coleta e sequenciamento dessas moléculas, deixadas no ambiente, é possível fazer o reconhecimento das espécies. 

A técnica atende algumas limitações do método visual, que exige práticas de mergulho, capacitação profissional e mais tempo de campo. Além disso, é possível identificar espécies que podem não estar visíveis numa primeira análise. “O coral-sol, por exemplo, gosta muito de cavernas, buracos, substrato negativo. Então, muitas vezes, quando você consegue ver é porque já está muito espalhado. Usando análises moleculares você tem o potencial de conseguir ver isso mais cedo”, pontua a bióloga marinha.

Um estudo sobre o coral-sol 

Em uma parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os pesquisadores do Cebimar, Kátia Capel e Valte de Oliveira Neto, desenvolvem métodos para uma identificação rápida de espécies exóticas invasoras, dentre elas o coral-sol.

Foram coletadas amostras de água e sedimentos em 25 pontos do arquipélago de Alcatrazes, buscando gerar um banco de dados inicial da biodiversidade local. A partir disso, é possível reconhecer espécies exóticas e invasoras através da análise do DNA ambiental. 

Outro objetivo do projeto é desenvolver marcadores específicos e um protocolo para rápida identificação do coral, que tem ameaçado a biodiversidade marinha ao dominar os ambientes: “Na Ilha de Búzios a gente viu que há paredões já dominados por coral-sol. E, com o tempo, devido a uma associação com um bivalve, que enfraquece sua ligação com os paredões, eles caem. Cria-se então um acúmulo de esqueleto de colônias no substrato que, antes arenoso, está mudando para um substrato cascalhoso, alterando a paisagem marinha”.

Paredão de coral-sol impede o desenvolvimento da diversidade biológica nativa [Imagem: Leo Francini – Reprodução/Jornal da USP]
Para a pesquisadora, em alguns locais onde o coral é encontrado em alta abundância é possível apenas manter a população controlada e focar os esforços em áreas prioritárias e onde a invasão ainda está nos estágios iniciais. 

O projeto, que teve início em 2021, espera ter uma parcela dos resultados analisados até o final de 2023. 

Limitações da técnica

Ainda que revolucionária e promissora, é necessário ressaltar que, mesmo que o uso do DNA ambiental permita identificar muitas espécies, nem  todos os seres vivos de um local são sequenciados. Portanto, o resultado será um recorte temporal e espacial do local estudado. 

Além disso, técnicas que dependem do DNA ambiental possuem certas limitações. A principal delas é com relação ao banco de dados, com o qual são feitas as comparações dos resultados obtidos. “O nosso banco de dados ainda é muito restrito, faltam informações genéticas de muitas espécies. Também há muitos erros de identificação, então o ideal é fazer uma curadoria do banco com o qual você vai comparar suas amostras para que haja uma maior confiabilidade nos seus resultados.” 

Assim, o trabalho de base, visando o enriquecimento do acervo de informações, é uma das principais preocupações. “Isso facilita trabalhos de monitoramento de longo prazo e a identificação precoce de espécies exóticas: conhecendo o que a gente tem aqui é mais fácil identificar o que é novo, o que está chegando, o que é diferente.”

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