Depressão pode ser associada a histórico familiar de problemas com álcool

Relação identificada por pesquisadores da FMUSP auxilia no tratamento precoce da doença

Fotomontagem com imagens de Rawpixel, Wikimedia Commons e Freepik por Adrielly Kilryann

Uma pesquisa realizada no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP) investigou a relação entre antecedentes familiares de alcoolismo e diferentes sintomas de depressão.

O estudo foi desenvolvido a partir de uma amostra de 333 trabalhadores do Hospital Mário Covas, da cidade de Santo André, em São Paulo. Os participantes haviam procurado tratamento no serviço de saúde mental ocupacional desde 2005, quando este foi criado. A partir da coleta de dados, foram observadas altas taxas de sintomas depressivos e de históricos familiares com problemas com álcool e depressão nos profissionais selecionados.

João Maurício Castaldelli-Maia, orientador de doutorado no Departamento de Psiquiatria da FM e autor da pesquisa, explica que a depressão pode se apresentar através de diferentes clusters, isto é, agrupamentos de sintomas que se inter-relacionam. “A depressão tem que ser entendida dentro do modelo biopsicossocial. A gente tem variáveis biológicas, ou seja, algumas pessoas têm maior vulnerabilidade, um perfil genético mais pré-disposto para desenvolver depressão, mas, além disso, um fator importante é o ambiente no qual a pessoa está inserida”, diz.

O pesquisador informa que nos casos em que foram identificados antecedentes familiares com depressão, os participantes da pesquisa apresentaram principalmente o cluster cognitivo – que se refere a sentimentos como pessimismo, sensação de falha, culpa, baixa autoestima, alta expectativa por punição e ideação suicida – e o somático (fadiga, insônia, sensação de lentificação, perda de apetite e perda de interesse sexual). 

Já em pacientes com casos de alcoolismo na família, o mais observado foi o cluster dos sintomas afetivos – tais como tristeza, insatisfação, episódios de choro, irritabilidade e afastamento de atividades sociais. 

Castaldelli-Maia ressalta que o rastreamento e a identificação desses sintomas são fundamentais para o tratamento de quadros depressivos. “É importante lembrar que o tratamento para a depressão é feito de duas maneiras: ele pode ser feito através de tratamentos psicológicos (psicoterapêuticos, como a terapia) e de tratamentos psiquiátricos (farmacológicos, como medicações) e não-farmacológicos (que envolvem as terapias biológicas)”, explica o professor.  

Além disso, este mapeamento sobre o histórico familiar auxilia na intervenção precoce dos sintomas de depressão e, consequentemente, no bem-estar mental do paciente.

O pesquisador acrescenta que o estudo também sugere futuras investigações sobre a possibilidade de existir uma predisposição compartilhada entre as condições: “Será que as pessoas que têm vulnerabilidade aumentada para problemas com álcool também teriam [vulnerabilidade aumentada] para a depressão?”

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