Pesquisa do Museu de Arqueologia estuda possíveis localizações de antigo Aldeamento de Cayapó, em Goiás

Estudo localizou potenciais áreas do Aldeamento Maria I, desativado em 1813

Pintura da imagem de Vila Boa, em Goiás. [Foto: Vanessa Bohn/autor: E. Rocha Lima]

Tese de doutorado do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo apresenta possível localização do aldeamento Maria I, desativado em 1813, um dos locais criados pelos portugueses para aprisionar indígenas do grupo Cayapó Meridional, naturais do sertão goiano. O estudo, de Elaine de Alencastro Chaves, foi iniciado quando a arqueóloga tomou conhecimento dos aldeamentos em Goiás e percebeu que o Maria I havia tido um rumo diferente dos demais, que viraram cidades. Com localização indefinida, o Aldeamento Maria I se perdeu no tempo e na paisagem, em algum lugar entre o rio Fartura e a Serra Dourada, em Goiás. A partir daí, Elaine reuniu todo o material disponível em uma busca incessante que lhe trouxe cinco possíveis localizações do Aldeamento: delas, apenas uma continha evidências. 

O aldeamento fez parte de um dos mecanismos do projeto colonial da coroa portuguesa para ocupar o território brasileiro e aculturar os indígenas. Construídos, boa parte, em terras de antigas aldeias, a maioria dos aldeamentos foi impulsionada pelos jesuítas, que promoviam a catequização forçada dos nativos, os quais serviam como reserva de mão de obra e contenção de indígenas de diversos grupos.

Já o Aldeamento Maria I, possivelmente localizado na região da bacia do Rio Fartura, no sertão goiano, foi construído na segunda metade do século 18, com o intuito de catequizar e de formar o que seria, futuramente, uma cidade. Além disso, os portugueses aprisionavam nele, exclusivamente, povos integrantes do grupo Cayapó. “O Aldeamento Maria foi [um aldeamento] só de Cayapó, porque eles não aceitavam outros indígenas com eles, de outras tribos e grupos”, conta Elaine.

Das cinco áreas selecionadas para a pesquisa de campo, apenas na Bacia do rio Fartura foram encontradas fortes comprovações da presença do grupo indígena. Segundo Elaine, “as áreas foram investigadas, mas em apenas uma foram encontrados vestígios que se assemelham ao material costumeiramente atribuído a povos integrantes da família linguística Macro-Jê, à qual pertencem os Cayapó”.

Pedaços de cerâmica encontradas na escavação, na Bacia do rio Fartura, em Goiás. [Imagem: Arquivo pessoal: Elaine de Alencastro Chave]
O principal indício de  que o sítio arqueológico era o Aldeamento dos Cayapó foi a cerâmica encontrada, tipicamente deste grupo. Segundo a arqueóloga, a cerâmica, por si só, é a representação do sedentarismo, que era comum aos Cayapó na época do Maria I e é a partir do momento em que eles plantam e caçam em quantidades maiores que surge a necessidade de armazenar. Ao começarem a analisar o terreno, Elaine e sua equipe encontraram muitas cerâmicas que são típicas dos Cayapó — grandes para caber os grãos e a água, e sem desenhos ou detalhes no exterior. Para ela, essa foi a principal prova de sua tese: “Todo lugar lá que escavávamos continha fragmentos, muita cerâmica, muita moeda do Império [período em que o Aldeamento ficou ativo]. Então é um indício fortíssimo que conseguimos localizar o aldeamento Maria I”.

Apesar disso, a confirmação necessita de mais pesquisas. Por isso, ela espera que os estudos sobre o Maria I não parem, apesar das dificuldades atuais. “Infelizmente, não temos incentivo financeiro suficiente para isso, ainda mais nesse Governo que a gente passou. Cortaram todas as verbas para pesquisa e sofremos muito [os arqueólogos].”

A relação de Elaine com a pesquisa vai além do interesse profissional, pois a provável localização do Aldeamento Maria I é nas proximidades de sua cidade natal, Vila Boa. Entender mais sobre o passado de seu local de origem lhe trouxe inspiração e, ao longo da pesquisa, ela se sentiu honrando personagens que construíram o que, hoje, é sua história.

Elaine e sua equipe no processo de escavação e procura nos possíveis terrenos do Aldeamento Maria. [Imagem: Arquivo pessoal/Elaine de Alencastro Chave]

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