Pesquisa investiga a comunicação do ex-presidente Trump no Twitter com seus apoiadores

Professores analisaram o uso da linguagem no tuíte feito pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante atos do BLM

Imagem: Wikimedia Commons

Durante os protestos que pediam justiça pelo assassinato de George Floyd, Donald Trump, presidente na época, e seus apoiadores hostilizaram as manifestações e culpabilizaram o movimento antifascista (Antifa) por criar distúrbio no país. No dia 31 de maio, Trump publicou em seu Twitter: “Os Estados Unidos irão designar Antifa como uma organização terrorista”, em referência a esses manifestantes. 

Os professores André Campos Mesquita (Universidade Estadual de Minas Gerais, UEMG) e Valdir Heitor Barzotto (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, FE/USP) exploraram as relações discursivas no Twitter entre o ex-presidente dos EUA e seus seguidores, e de que forma Trump deu significado a expressão “Antifa”. A pesquisa que resultou no artigo Um estudo sobre a expressão Antifa quando enunciada por Donald Trump em sua conta no Twitter, publicado pelo periódico Afluente.

[Imagem: Reprodução/Twitter]
Nos Estados Unidos, o movimento Antifa é uma junção de grupos de esquerda que lutam contra o racismo, LGBTfobia, machismo e também o capitalismo, e esteve presente nas manifestações do Black Lives Matter, após o assasinato de George Floyd por um policial em Minneapolis. 

Em entrevista para a Agência Universitária de Notícias, o professor André comenta que, legalmente, Trump não tinha nenhum embasamento para considerar o Antifa como organização terrorista. Além disso, não faz parte das atribuições do presidente nos Estados Unidos designar quais são as organizações terroristas. “Com isso, muita gente pensa que é simples. Você considera ele um sujeito incapaz e que fala bobagem, mas não é assim”.

O tuíte de Trump é entendido como um discurso de ódio, que é quando um enunciado é feito com o objetivo de ofender um indivíduo ou uma organização e incentivar a hostilidade a esses grupos. Porém, nos EUA, esse tipo de discurso é protegido por lei, a não ser que ele ocorra em um momento de violência. 

Por meio das teorias discursivas, os autores concluem que as palavras do ex-presidente no tuíte são um ato de fala, uma ação que é feita através da fala, e também uma ameaça aos grupos Antifa. “Ele estava ameaçando aquelas pessoas ao considerá-las terroristas e ainda percebemos que não era só isso, de certa maneira, aquilo servia também para manter a base dele unida”, explica André.

No artigo, os professores consideram a linguagem como o lugar em que o sujeito se constitui. André comenta que, em sua conta do Twitter, Trump mistura os sujeitos ao alternar entre ele e o Estado. Ainda que o nome na conta seja o nome pessoal dele, na época que era presidente, Trump usava os “Estados Unidos” como agente da ação.

“Há um conjunto de regras discursivas que é estabelecido ali [no tuíte] e quando Trump anuncia daquela maneira, ele está submetido também àquele conjunto de regras. E aí as regras discursivas ali se retroalimentam”, comenta o professor Valdir.

O enunciado de Trump só existe porque, dentro dos Estados Unidos, há um grande conjunto de discursos que excluem minorias e legitimam a opressão do Estado. Por esse motivo, segundo André, a fala do ex-presidente não pode ser considerada uma “bobagem” proferida por alguém que não sabe o que fala. Trump publicou o tuíte, porque sabe que terá apoio de seus seguidores.

“Ele tem as condições para repetir esse discurso de ódio, porque há respaldo e não é só do ignorante. É o respaldo de quem tem poder econômico, inclusive para comprar o conhecimento e sustentar que ele diga isso”, complementa Valdir.

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