Brasil é o maior campeão de competições de matemática universitária do Continente Americano

USP é a instituição com mais medalhistas em 2022, com resultado que coloca o país à frente de EUA e Canadá

Da esquerda para a direita, Eduardo Sodré, Edson de Faria e Marcelo Lage, três gerações de campeões olímpicos da matemática do IME-USP // Foto: Diogo Leite/AUN.

Em 2022, estudantes do Brasil conquistaram 58 medalhas em competições internacionais de matemática universitária. Com esse resultado, o país está à frente de todos os demais no continente americano. O número é a soma de medalhas conquistadas na Competição Iberoamericana Interuniversitária de Matemática (CIIM) e na Competição Internacional de Matemática para Estudantes Universitários (IMC, na sigla em inglês). Entre as instituições de ensino, a campeã em prêmios é a Universidade de São Paulo (USP), seguida do Instituto Militar de Engenharia (IME) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

As competições consistem em provas com problemas desafiadores de matemática, que envolvem abordagens criativas de teorias aprendidas no Ensino Superior. Na IMC, participam países de todo o mundo, enquanto na CIIM a participação é restrita aos países ibero-americanos (países da América falantes de espanhol ou português). Em ambas, o Brasil compete com um time de alunos de diversas universidades, selecionado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) por meio de uma olimpíada nacional, e com times inscritos pelas próprias instituições.

No ano de 2022, o time da SBM conquistou todas as cinco medalhas de ouro distribuídas pela CIIM, realizada em Bogotá, na Colômbia, enquanto os times da PUC-Rio e do IME levaram para casa outras quatro medalhas de prata e três de bronze. A performance rendeu ao Brasil o primeiro lugar na competição. Já na IMC, realizada de forma híbrida online e na Bulgária, o time da SBM foi o 20º colocado entre 100 seleções, à frente de todos os demais países americanos.

Dados: portais da IMC e da CIIM // Infográfico: Diogo Leite/AUN.

Marcelo Lage e Eduardo Sodré, alunos do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME-USP), conquistaram a medalha de ouro em ambas as competições como parte do time da SBM. Com um currículo extenso (os dois participam de competições de matemática desde o Ensino Fundamental), eles contam que a presença de outros medalhistas na USP contribuiu para que escolhessem a Universidade. “Pelas minhas conquistas, fui convidado por um colégio de São Paulo para fazer o Ensino Médio aqui, e conheci vários outros medalhistas que escolheram a USP também”, descreve Marcelo, que é de Belo Horizonte, Minas Gerais.

A tradição do IME-USP em competições é bem anterior aos jovens medalhistas. Edson de Faria, Professor Titular do Instituto, participou da primeira delegação brasileira enviada a uma competição internacional – a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), voltada para alunos do Ensino Médio – em 1979.

Edson conta que se lembra das aulas preparatórias para a olimpíada, ministradas no prédio do IME-USP pelo professor Ângelo Barone, titular do departamento falecido em 2013. “Tivemos um desempenho medíocre. Eram 21 países competindo e o Brasil ficou em 20º. Mas era o esperado, pois não tínhamos ideia do que íamos enfrentar ali. Não havia internet, então não tínhamos acesso a questões de anos anteriores da IMO. Depois fomos ganhando experiência, investimento, e a ‘coisa’ evoluiu”, relembra.

Em 2022, Marcelo Lage conquistou uma das duas medalhas de ouro do Brasil na IMO, performance recorde para o país. A evolução não foi só no campo das olimpíadas: Edson explica que o Brasil é hoje considerado parte do chamado “Grupo Cinco”, o grupo de países com pesquisa matemática de maior qualidade no mundo.

O professor, no entanto, ressalta que é importante entender o real papel dessas competições na academia. “As olimpíadas são ótimas para descobrir talentos, mas depois é preciso ir além. Elas podem dar uma impressão um pouco distorcida do que é fazer pesquisa em matemática: não basta ser bom nas provas para ser um bom pesquisador”, explica. “Eu mesmo demorei mais do que a média para acabar meu doutorado, e, por ter sido premiado em olimpíadas, colocava uma pressão desnecessária sobre mim.”

Da mesma forma, o professor ressalta que alunos que não se dão bem nas competições também podem ser ótimos matemáticos. “William Thurston, por exemplo, considerado um dos grandes gênios da matemática, estudou em uma escola onde não se aplicavam exames. Se fosse fazer uma olimpíada de matemática, ou mesmo uma prova da Fuvest, ele provavelmente não seria aprovado, mas, mesmo assim, foi um matemático excepcional.”

Além de Marcelo e Eduardo, o primeiro lugar da USP em 2022 se deve ao grupo Nemo, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP de São Carlos (ICMC). Membros do Nemo conquistaram uma medalha de ouro, duas de prata e quatro de bronze na IMC. A equipe se inscreveu por meio da universidade e conta com a orientação do professor Ali Tahzibi. Segundo Eduardo e Marcelo, alguns alunos do IME-USP tentaram organizar um time próprio para a IMC, solicitando à Reitoria o financiamento de passagens para participação na modalidade presencial da olimpíada, na Bulgária, o que acabou não se concretizando.

Agora, Marcelo e Eduardo estão organizando aulões para a competição Elon Lages Lima, concurso nacional de matemática promovido pela SBM. Eduardo, que está no último ano do Bacharelado em Matemática, já planeja suas aplicações para pós-graduação no exterior. “No cenário atual, a perspectiva do exterior é mais animadora, o que é uma pena”, conclui. 

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