Pesquisa analisa a relação entre fantasia e o aprendizado de ciências na primeira infância

Tese de doutorado da Faculdade de Educação mostra que crianças na primeira infância aprendem com a ajuda da imaginação

Imagem: Artem Kniaz/Unsplash

A ficção científica tem como traço principal misturar o imaginário e a ciência em produções fantásticas. Foi com isso em mente que a pesquisadora Tatiana Pereira da Silva resolveu investigar como crianças de até 6 anos usam a imaginação e a ficção científica para entender conceitos básicos de ciências.

O resultado da pesquisa foi a tese de doutorado da Faculdade de Educação da USP (FE) Ficção científica com a primeira infância: o papel da imaginação para aprender ciências, que contou com o apoio da Banca da Ciência, projeto de divulgação científica da USP, Unifesp e IFSP para escolas e comunidades em vulnerabilidade social.

Para o estudo, Tatiana foi até um colégio municipal de educação infantil em Guarulhos (SP), onde montou três cenários inspirados nas histórias clássicas da ficção científica: As Crônicas Marcianas, Sonhos de Um Robô e Frankenstein. Com auxílio de monitores e professores, Tatiana também adaptou essas histórias em pequenos roteiros que facilitassem o entendimento dos alunos. “Percebemos que essas narrativas de ficção científica precisavam ser adaptadas para as crianças, uma vez que são direcionadas para o público adulto”, explica a pesquisadora. Os objetivos dessas intervenções eram fazer as crianças interagirem ativamente com os cenários e observar de que forma elas separavam a fantasia de conceitos científicos. 

Imagem: Tatiana Silva

Na intervenção baseada em As Crônicas Marcianas, Tatiana criou uma representação do planeta Marte poluído após a passagem dos humanos. Os alunos precisavam pensar em formas de ajudar o planeta. Nesse processo, eles foram capazes de mobilizar o que já sabiam de ciências. “A criança consegue indagar e construir esse pensamento de ‘eu tenho que resolver o problema’ e ‘como que eu resolvo isso?’. Ela vai encontrar questões que aprendeu em outros momentos”.

Tatiana percebeu que as crianças entendiam todos os problemas dentro das histórias e conseguiam transitar entre o real e o imaginário. “Nas narrativas, a criança imita situações, mas também estabelece regras para esse funcionamento. A imaginação fica no contexto da exploração do real”.

Além disso, esses alunos não apenas foram capazes de abordar os conceitos de ciências durante as intervenções, mas também possuíam posicionamentos éticos e políticos sobre temas, como o meio ambiente. “O interessante é que há uma relação das culturas de pares infantis, que é quando uma criança começa a propor soluções para os problemas e as outras também se envolvem neste processo que a primeira propôs”.

Imagem: Tatiana Silva

Uma das ideias da pesquisa também foi entender a criança como “um sujeito que já é”. Tatiana diz que é importante levar em conta que elas têm a sua própria cultura e, diferentemente do que grande parte dos adultos pensam, são seres que conseguem se posicionar e tomar decisões.

A pesquisadora concluiu que as ciências podem ser incorporadas pelas crianças através de situações vividas pela imaginação, mas levando em conta as particularidades de aprendizado de cada infância. “Se o cientista, no seu processo de construção da ciência, articula a imaginação, as crianças também fazem isso quando elas estão aprendendo”.

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