Atividades antrópicas e fatores abióticos podem transformar um ambiente, ambos já alteraram o cerrado paulista, domínio que antes ocupava 14 % do território, hoje mal chega a 1%. Para monitorar alguma dessas mudanças, o autor do livro, José Carlos Motta-Junior do Laboratório de Ecologia de Aves elaborou esse projeto. “Pretendia fazer a listagem (de espécies de aves e plantas de Itirapina), ver as relações ecológicas e assim produzir um livro de divulgação científica que atendesse tanto o lado técnico, como o lado leigo, de pessoas comuns que podem ver a riqueza do patrimônio de Itirapina”. Sintetiza ele.
O livro é digital, as imagens foram colocadas com descrição técnica e resolução de 300 pontos por cada polegada de tela. O seu formato preserva a qualidade e evita a pixelização de fotografias. O pesquisador diz: “Se há uma dúvida sobre o que o animal está fazendo, é possível fazer ampliação dessa imagem na tela e descobrir’’.
Relações entre aves e plantas em Itirapina
No geral, as relações que a obra ilustram são de fitofagia, com o consumo pelas aves de partes das plantas, sendo classificadas como: folivoria (consumo de folhas ou brotos), florivoria (consumo de flor), nectarivoria (consumo de néctar) com ou sem polinização, frugivoria (consumo de frutos) com ou sem dispersão da semente, granivoria (predação de sementes) e exsudativoria (consumo de exsudato, como a seiva, das plantas).
Nem todas as relações são desarmoniosas para as plantas. O autor cita a importância ecológica das aves: “Aves prestam muitos serviços ambientais (benéficos para plantas), como a polinização, a dispersão de sementes, e até mesmo podem agir no controle populacional de pragas delas’’.
A polinização é a transferência de grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma, parte do aparelho reprodutor feminino, da mesma flor ou de uma outra da mesma espécie. Muitos desses processos dependem de um agente polinizador específico, adaptados para a estrutura e espécie da planta. A extinção de aves polinizadoras pode implicar diretamente em um dano a reprodução das plantas que seriam polinizadas, o que seria um prejuízo ao produtor e aos demais níveis tróficos de uma cadeia.
A Estação Ecológica de Itirapina é uma das unidades de conservação mais importantes do cerrado paulista, preservando suas faunas e floras. A área tem aproximadamente 2.300 hectares, que incluem 270 espécies de aves listadas (um terço da avifauna paulista), envolvendo as comuns, várias ameaçadas e outras localmente extintas. Em 2021, a estação passou por um incêndio grave à vegetação, que atingiu em torno de 70-80% da unidade de conservação. “Apesar do Cerrado ser adaptado para pegar fogo, ele não é capaz de pegar fogo frequentemente, nesse caso certamente algumas dessas espécies de plantas e aves podem demorar para se recuperar’’, indica José.
Biodiversidade e a necessidade de preservação do habitat
Funções estéticas, proteção de propriedades farmacêuticas e equilíbrio ambiental são alguns dos fatores da necessidade de preservação ambiental. Motta-Junior considera a biodiversidade dos biomas como sendo um patrimônio genético natural de valor incalculável. Se a riqueza do cerrado não pode ser mensurada, a destruição pode ser: um relatório de desmatamento do Map Biomas apontou que de 2021 para 2022, o desmatamento desse domínio aumentou em 20% no Brasil.
Com biomas e habitats devastados, espécies ficam mais ameaçadas. O pesquisador exemplificou alguns motivos que podem levar à extinção animal, utilizando o caso vulnerável do galito (Alectrurus tricolor). Com o avanço de capins invasores, os campos limpos ficaram limitados, e é justo nesse ambiente que é propício a inserção de seus ovos. Ele comenta: “(A extinção) pode ser provocada por caça e por comercialização ilegais, mas eu diria nesse caso particular [galito] e no de 80% a 90% dos casos de extinção esta ocorre pela perda ou alteração severa do próprio habitat’’.
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