Mudanças físicas, alterações hormonais e adaptações a uma nova rotina. Isso é só o começo das transformações da vida de uma gestante que, em 9 meses, vai passar a cuidar de um ser totalmente dependente. A saúde mental dessas mulheres no pré e pós-parto, no entanto, é negligenciada por elas, pelas famílias e pelos hospitais, o que resulta no aparecimento de graves problemas, como a depressão ou o Baby Blues.
Lou Muniz, doutoranda pela Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que “a saúde mental da mãe é fundamental para o desenvolvimento da criança. E completa: “O feto irá sentir, indiretamente, o estresse e as complicações mentais pelas quais a gestante passar. Assim, se for um período difícil para a mulher, há menos chances da gravidez se desenvolver tranquilamente”.
É importante pontuar que “há uma ambivalência na gestação e é parte normal do processo gravídico-puerperal: desejar e não desejar o filho, querer e não querer amamentar, por exemplo, são dualidades comuns enfrentadas pela mãe”. Ou seja, até determinado limite, é normal que a pessoa sinta emoções ruins e se depare com questões conflitantes. Para que não haja uma piora do quadro no pós-parto, ela indica trabalhar os aspectos emocionais enquanto se está grávida.
Isso é possível porque os sinais aparecem cedo: segundo a American Psychiatric Association, em 2014, 50% das depressões pós-parto tiveram início na gestação. Os dados ainda apontam que, durante esse processo, a autoestima das mulheres é baixa, elas sentem mais inseguranças e têm uma alta preocupação com o corpo. Além disso, o autocuidado diminui e há, em muitos casos, dificuldades para aceitar a gravidez.
Complicações no pós-parto aparecem frequentemente, embora não recebam a atenção que merecem: o Baby Blues, a tristeza depois de gerar o filho, ocorre entre 50% e 80% das mães. Mas, de acordo com a especialista, normalmente não é tratada porque os profissionais acreditam que, por ser um transtorno de origem hormonal, vai haver melhora assim que os hormônios se regularizarem. A depressão pós-parto acomete de 10% a 15% das mulheres e é dificilmente diagnosticada. Como consequência, há falta de assistência, o que impacta negativamente na relação da mãe com o bebê. “Normalmente os sintomas são confundidos com o cansaço e a indisposição inerentes ao pós-parto e são negligenciados pela própria mulher e sua família”.
Para Muniz, as gestantes precisam de uma rede de apoio formada por familiares, pessoas próximas e pela Unidade de Saúde. “A mulher não deve dar conta de tudo sozinha”. Ela ainda diz que o SUS possui atendimento psicológico e psiquiátrico, além de desenvolver potentes redes de suporte para a população em geral. Para ela, o sistema precisa se instrumentalizar a fim de aproximar a família à grávida ou puérpera para aumentar a capacidade de prevenção das doenças.
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