Estudo da USP mostra que população mais pobre consome mais alimentos industrializados

Grupos com menor escolaridade possuem alimentação mais industrializada e com menor ingestão de hortaliças em comparação com as classes mais escolarizadas

Fotomontagem sobre alimentação na periferia - Arte: Ana Júlia Maciel

Pesquisa realizada no Laboratório de Epidemiologia e Imunobiologia da Faculdade de Medicina da USP (FM) apresenta que a população com menos acesso à educação, e consequentemente, com menor renda tem um consumo baixo de frutas e hortaliças. Enquanto a ingestão de alimentos industrializados, como refrigerantes e sucos de caixinha, é maior nesta classe. 

Este estudo analisou os dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que coleta informações anuais das capitais brasileiras. Foi observado o consumo de cinco ou mais porções de frutas e hortaliças, feijões, refrigerantes e sucos artificiais em mais de cinco dias da semana. Participaram do estudo 600 mil indivíduos com mais de 18 anos de idade. Os dados obtidos foram cruzados com materiais de desigualdade social. 

Diferenças no acesso à comida de qualidade

Segundo Fernanda Rauber, pesquisadora no Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e participante do projeto, a assimetria do acesso à frutas e hortaliças pode ser física ou financeira. “A disponibilidade de frutas e hortaliças pode ser limitada em bairros desfavorecidos e ser mais abundante em locais de maior condição socioeconômica. Elas também podem ter um custo mais elevado se comparado com outros alimentos in natura e minimamente processados, como arroz, feijão e farinha”, diz Rauber.

A facilidade e disponibilidade dos produtos industrializados também é um critério para o maior consumo deste grupo: “Alimentos ultraprocessados, como refrigerantes e sucos artificiais, são convenientes, práticos e estão por todos os lados. Essa onipresença estimula o consumo desses produtos”, aponta Fernanda. Eles estão tomando todos os estabelecimentos: padarias, postos de gasolina, mercados, estações de transporte público e até o interior dos ônibus e metrôs, devido aos vendedores ambulantes. 

A presença desses produtos, em todos os lugares, incentiva o consumo desenfreado, mas o marketing também tem essa função. A propaganda intensiva faz com que eles sejam desejáveis, estimulando ainda mais o consumo. 

De 2008 até 2019

Segundo o estudo que Fernanda participa, o consumo de hortaliças e frutas caiu entre 2008 e 2019. A crise, que vem ocorrendo desde 2014, é um dos fatores: “a intensa crise econômica e política que vem ocorrendo no Brasil desde 2014 agravou diversos indicadores sociais, como renda, taxas de desemprego, aumento dos preços dos alimentos, com destaque para as frutas e hortaliças, e também o aumento da insegurança alimentar”, pontua a pesquisadora.

Rauber conta que outro fator para a diminuição desse consumo foi a redução orçamentária de uma política de apoio à agricultura familiar. Devido a crise financeira, o governo brasileiro cortou verbas do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o que dificulta o consumo de produtos in natura por indivíduos em situação de maior vulnerabilidade.  

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