USP participa de descoberta inédita sobre chuvas na Amazônia

Membros do projeto Amazon Tall Tower Observatory, pesquisadores paulistas observaram partículas ultrafinas na camada atmosférica mais próxima da superfície

As missões GOAmazon e Acridicon-Chuva identificaram algo inesperado no céu da floresta - Créditos: Agência Brasil

Em voos sobrevoando a Amazônia para estudos, pesquisadores perceberam partículas ultrafinas na troposfera — camada da atmosfera mais próxima da superfície terrestre —, onde não se sabia que elas poderiam estar. Entre os estudiosos, estavam representantes do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP). A experiência aconteceu entre 2014 e 2015 e, desde então, um grupo focou sua análise no entendimento do fenômeno. Compreendeu-se que as nuvens de tempestade da floresta se formam de maneira diferente do que se esperava e do que ocorre em outras partes do planeta. 

A investigação acontece com auxílio do projeto ATTO — Amazon Tall Tower Observatory —, que consiste, em grande parte, em uma torre de 325 metros instalada no coração amazônico e equipada para cientistas.  Além da gigante, outros equipamentos compõem a iniciativa, como os sítios de física de nuvens usados para essa investigação. Inaugurado em 2015, é dividido entre Brasil e Alemanha e a Universidade de São Paulo é uma das participantes do lado brasileiro. 

Foi criado, também, o Cafe, sigla em inglês para Experimento de Campo de Química da Atmosfera, que se dedica a esse estudo. A professora do IAG e meteorologista Rachel Albrecht esteve presente desde o início do descobrimento desse, até então, novo comportamento das chuvas na Amazônia. Ela conta que o Cafe deve realizar mais voos no final de 2022 com total foco em tal análise.

A maior concentração de aerossóis na Amazônia não está próxima ao solo, mas acima do topo da maioria das nuvens, apontou o experimento dos pesquisadores. Foi detectado, também, que essas partículas suspensas possuem, majoritariamente, um diâmetro inferior a 50 nanômetros, o que é uma medida considerada muito pequena para formar nuvens de chuva. Entretanto, a floresta mostrou-se uma exceção. Um artigo publicado em janeiro de 2018, na revista Science, de uma equipe de pesquisadores de Brasil, Alemanha e Estados Unidos, afirmou que esses aerossóis ultrafinos são um dos responsáveis pela formação de tempestades violentas no bioma.

“A floresta tem essa autossuficiência enquanto existe. A partir do momento que temos, por exemplo, o desmatamento, mudamos todo o ciclo biogeoquímico, não só o regime de chuvas”, afirma a docente – Créditos: EBC

“Percebemos que a Amazônia gera suas próprias sementinhas para produzir a chuva. Antes, tínhamos uma ideia de que boa parte vinha de fora”, explica Albrecht. “Porém, estamos vendo que boa parte das partículas são formadas pela interação com a biosfera e a atmosfera, por esses gases de compostos orgânicos voláteis que interagem e são também injetados na superfície”, completa. Quando a nuvem começa a sugar o ar que está embaixo, ele vai para dentro dela formar a chuva. “Parte dessa massa de ar e o que ela suga vai para a troposfera”, esclarece. Essas partículas caem em forma de precipitação no solo e toda essa ciclagem pode ter diferentes efeitos nas nuvens. 

O projeto ATTO é financiado, na parte brasileira, pelo Governo do Estado do Amazonas, Fundação Eliseu Alves, Finep – Inovação e Pesquisa, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) também é contribuidora. Além dos alemães, norte-americanos, japoneses e europeus de outros países colaboram com as pesquisas.

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