Terapeuta ocupacional pode atuar no manejo e prevenção de delirium

Condição afeta especialmente idosos hospitalizados e prejudica recuperação

Imagem: Freepik

O delirium é uma condição neuropsiquiátrica que tem como principais sintomas as alterações nos níveis de atenção, consciência, mudanças de humor e agitação ou letargia. Sua prevalência é baixa, atinge cerca de 2% da população geral, mas os idosos são bastante suscetíveis à condição. 

Com o intuito de prevenir e aprimorar o manejo do delirium por meio de intervenções não farmacológicas, a professora Maria Helena Morgani de Almeida, do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, coordenou, em colaboração com as terapeutas ocupacionais Marina Picazzio Perez Batista e Ana Paula Pelegrini Ratier, a revisão integrativa “Abordagem do terapeuta ocupacional para prevenção e manejo de delirium em idosos”.

Causas

“O delirium é decorrente basicamente de causas orgânicas, mas ele é multifatorial”, explica a professora à Agência Universitária de Notícias. Entre os principais fatores que predispõem a condição, estão idade avançada, doenças crônicas e insuficiência renal e hepática. Há também fatores que precipitam o delirium, como infecções e a hospitalização.

“Idosos são tão predispostos que às vezes eles não apresentam o quadro, mas acabam desenvolvendo durante a internação”, afirma. Até 40% dos idosos internados podem desenvolver delirium. Esse número pode chegar a até 87% no caso de hospitalizações pós-cirúrgicas. A condição representa um risco, pois pode aumentar em cinco vezes a mortalidade durante a internação.

“Muitas vezes o próprio ritmo do hospital, o excesso de estímulos e a interrupção do sono precipitam, podem ser o gatilho”, comenta Maria. “O ambiente no qual o indivíduo está para melhorar, para reverter o seu quadro, pode gerar outros quadros”, acrescenta.

A abrangência de sintomas e condições dificulta o diagnóstico. Segundo a professora, muitos casos são confundidos com outros quadros, como depressão. Por isso, ela defende que haja uma abordagem cooperativa entre os profissionais, a fim de acompanhar o paciente, identificar os fatores e corrigi-los.

Revisão integrativa

Em muitos hospitais o manejo do delirium era feito por meio da contenção física. “Não é a melhor forma de atuar e vai trazer mais consequências para a funcionalidade da pessoa, inclusive quando ela voltar para casa”, explica Maria.

A partir desse problema, surgiu o projeto de revisão integrativa, que contou com a participação de bolsistas de iniciação científica. A pesquisa foi embasada na literatura já existente para repensar a atuação do terapêuta ocupacional no manejo não farmacológico do delirium em idosos. 

Ao todo, foram encontrados 275 artigos e selecionados 24 deles, que trouxeram informações sobre os contextos de tratamento. Apesar de a maior prevalência ser em hospitais e UTIs, também se maneja delirium em instituições de reabilitação e domicílio. O estudo pôde amparar o desenvolvimento de práticas e atividades na área da Terapia Ocupacional para complementar o manejo de médicos, enfermeiros e outros profissionais.

Manejo

“O manejo não farmacológico implica em atuar basicamente nas seguintes frentes: no ambiente, com o paciente e com os familiares”, explica a professora. A atuação no ambiente inclui uma iluminação adequada, redução dos ruídos, personalização com objetos familiares como fotografias e também favorecer a orientação do paciente através de relógio, calendário e quadro de atividades.

As estratégias voltadas ao paciente envolvem a relação com a equipe e com os funcionários, redução  das restrições físicas e evitar outros quadros clínicos, como infecções hospitalares. Já o terapeuta ocupacional deve estimular o envolvimento do paciente com as atividades cognitivas, melhorar suas capacidades físicas, aumentar a autonomia e incentivar a participação familiar. “A família também precisa ser orientada em como se dirigir ao paciente e estimulá-lo nas atividades”, alerta a professora.

“Muitas vezes os protocolos clínicos despersonalizam a atenção”, afirma Maria. “É muito importante ajustar esses protocolos às capacidades da pessoa”, acrescenta. Além dos benefícios para o paciente, a revisão permite amparar as atividades didático-assistenciais pelo Curso de Terapia Ocupacional da USP. “Não é possível só uma especialidade pensar nisso, é muito importante essa troca de saberes, a prática colaborativa e o trabalho dentro dos princípios da integralidade”, conclui.

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