É possível adaptar o fazer artístico no ensino remoto de Artes?

Créditos: Reprodução Wikipédia

A pandemia da Covid-19 alterou profundamente a dinâmica de estudo dentro das redes de Ensino Básico e Superior no Brasil. As interações entre alunos e professores das disciplinas de artes passaram a ser mediadas pela tecnologia e não incluem materiais necessários para auxiliar os alunos neste processo, modificando as possibilidades de aprendizado e produção artística.

Adaptação do fazer artístico

Para a professora Rosa Iavelberg, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), a maior dificuldade da adaptação do ensino de artes para a modalidade virtual está justamente na falta de interação social. “As práticas de criação constituem parte importante da formação e ficam prejudicadas pela falta da interação presencial, no momento em que os alunos e alunas trabalham”.

A especialista em Pedagogia explica que o diálogo é um importante aspecto dentro das práticas de criação e, por mais que o ambiente virtual forneça plataformas que possibilitem uma troca de informações entre professor e aluno, estas não são equiparáveis ao trabalho presencial: “Na aula remota, tais modalidades de aprendizado podem ser improvisadas com estratégias didáticas diferenciadas. Entretanto, estas não alcançam o aprofundamento necessário que atenda às demandas do diálogo entre o ensino e a aprendizagem do componente”, comenta Rosa.

Ainda que a questão da interação seja importante em todos os quesitos do currículo escolar, as especificidades das modalidades de aprendizagem das artes resultam em um prejuízo ainda maior: “As modalidades de aprendizagem requerem do aluno e da aluna o fazer artístico, a leitura da arte, a reflexão sobre a produção social e histórica da arte em sua diversidade, numa perspectiva inclusiva e contextualizada”, afirma a professora.

Materiais do ensino remoto

Em relação aos prejuízos da educação à distância no ensino de disciplinas que trabalham com o lúdico e a criatividade, “o maior prejuízo é certamente o tecnológico”, afirma Rosa Iavelberg. Neste âmbito, a professora ainda ressalta a dificuldade de conexão e a incapacidade estrutural do governo municipal e estadual em fornecer equipamentos suficientes para os alunos da rede pública.

A graduanda em Artes Visuais e estagiária do Programa de Residência Pedagógica (RP) de Licenciatura em Artes, Karol Pinto, conta que a reflexão colocada na produção e no manuseio do material é fundamental. “O importante é entender que a existe um raciocínio na produção, seja as cores, os objetos na escultura ou cenas de vídeo. Esses componentes estão ali por um motivo e, para entender esses propósitos, apenas produzindo muito e explorando possibilidades.”

A estudante comenta que a prioridade do projeto era propor atividades com materiais reduzidos para os alunos das disciplinas dentro da Residência Pedagógica. A estagiária acrescenta ainda que muitos dos professores, envolvidos no do projeto, viram como opção que os alunos utilizassem o próprio corpo e câmera dos alunos. “É muito difícil garantir presença ou atenção dentro do ambiente das aulas online. O que você consegue ter quase certeza é que aqueles alunos estão na chamada e que possivelmente tenham câmera. E esses exercícios são interessantes, pois conseguem trazer reflexões sobre as narrativas que mostramos a partir da câmera”, ressalta Karol.

A estagiária comenta que a pandemia chegou em um momento em que a prioridade não é transmitir determinado conteúdo ou avaliar os alunos. Mas sim um esforço do corpo de professores e da escola enquanto instituição de evitar a evasão, e permitir uma troca mínima entre alunos.

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