Além de febres, náuseas, tosse seca, cansaço e dor de garganta a anosmia — perda de olfato — vem sendo listada como um dos principais sintomas da doença provocada pelo Sars-coV-2. A pesquisa “Covid-19 e olfato”, feita por pesquisadores do Instituto de Química da USP em parceria com o Departamento de Bioquímica da Unifesp, busca saber se o sintoma pode ser interpretado como um alerta para que o paciente comece a ser tratado antes que a doença se agrave. O estudo também busca entender se a perda do sentido pode auxiliar na identificação de pessoas infectadas e assintomáticas, potenciais transmissores do vírus.
Em entrevista para a Agência Universitária de Notícias, a professora Bettina Malnic, membro do grupo de pesquisa, afirma que diferentes aspectos dos sintomas estão sendo observados. “O que queremos saber é quando ocorre essa perda de olfato e por quê, pois muitos fatores podem causar esse sintoma”. No caso da covid-19, uma coisa que tem se observado é que essa perda de olfato ocorre subitamente e sem obstrução nasal, ou seja, sem as características mais comuns.
A escassez de testes para o coronavírus impede que os assintomáticos sejam identificados, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Por isso, as pessoas portadoras da doença acabam não se isolando, o que favorece a transmissão do vírus. O reconhecimento do sintoma repentino e sem causa aparente pode servir como indicador simples de quem precisa ser isolado em razão da doença.
O objetivo principal do estudo é estabelecer uma relação entre a anosmia e a covid-19. Os métodos de pesquisa incluem questionários que analisam a capacidade olfatória de profissionais da saúde e o desenvolvimento de um aplicativo para analisar os sintomas da doença remotamente.
O grupo de pesquisa fechou parcerias com hospitais para aplicar os questionários e o aplicativo foi inspirado no Covid SymptomTracker app, desenvolvido pela Kings College no Reino Unido. O estudo da universidade inglesa computou 400 mil respostas, 18% delas relatando perda de olfato — 1702 pessoas disseram que foram testadas para o coronavírus, sendo que 579 obtiveram resultado positivo para a covid-19. Dentre estes positivos, 59% reportou perda de olfato ou paladar.
Os pesquisadores estão conversando com o Hospital das Clínicas para avaliar a possibilidade de obter amostras de necrópsia de indivíduos afetados para análise do sistema olfatório. Além disso, a pesquisa está avaliando possíveis experimentos utilizando camundongos com a intenção de saber se o vírus é capaz de chegar ao cérebro através do nervo olfatório.
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