Entenda os impactos do distanciamento social em autistas

Crianças com Transtorno de Espectro Autista são afetadas direta e indiretamente pelas medidas de isolamento social durante covid-19

Crianças autistas são impactadas pelo distanciamento social – Foto: Arte sobre foto/ Freepik

Dificuldades para interação social e na comunicação e déficits cognitivos intelectuais, motores e sensoriais são algumas das características dos autistas. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um diagnóstico amplo e cada portador possui sua especificidade, pois a síndrome se manifesta de diferentes formas. Há quadros que variam de leves, intermediários a severos, sendo esse último um perfil que requer maior grau de assistência.

Com as medidas adotadas pelas esferas municipais e estaduais de distanciamento social por conta da pandemia do coronavírus, parcela da população teve que readequar seus hábitos e costumes. Na maioria das regiões brasileiras, as escolas não estão abertas, bares e restaurantes estão com funcionamento limitado e parques e praças possuem de restrições uso. Todas essas mudanças atingiram diretamente os autistas, principalmente as crianças.

Uma característica do autismo é a rigidez na rotina, mas, com a pandemia, tudo mudou. Crianças com que aprenderam que ir ao colégio era algo normal, agora estudam em suas casas. Já os portadores da síndrome que trabalham e haviam se acostumado a se deslocar para seus empregos hoje realizam suas tarefas em seus quartos.  E segundo Joana Portolese, psicóloga e coordenadora do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria (IPq), essa adaptação é difícil e demorada.

Por outro lado, as medidas de distanciamento também podem ser positivas aos portadores da síndrome. Cerca de 95% dos autistas possuem alterações sensoriais, ou seja, não conseguem estar em locais com aglomerações, com muitos ruídos ou luzes. Nesses casos, o fato de poderem estar reclusos em suas casas significa não estarem em locais que geram desconforto.

Outra questão levantada por Portolese é que, como portadores do TEA costumam ter dificuldades para se relacionarem socialmente, poder ficar em casa com os pais pode até mesmo contribuir no desenvolvimento das crianças. ”Na quarentena, os autistas estão ganhando maior autonomia e desenvolvendo melhoras na comunicação, que seriam questões que eles não desenvolveriam tão facilmente no dia a dia”, afirma.

Questões socioeconômicas refletem de maneiras distintas

Um levantamento clínico feito pela coordenadora do Programa de Transtornos do Espectro Autista do IPq apontou ainda que os impactos da pandemia eram diferentes quando comparadas crianças de famílias de classe média e alta com famílias de baixa renda. As famílias de baixa renda foram afetadas de maneira negativa porque muitas, por exemplo, não possuem moradias espaçosas para as atividades da criança autista e os pais estão trabalhando presencialmente. Por outro lado, as famílias com maior renda possuem casas espaçosas e os pais adotaram o regime de trabalho remoto.

Os reflexos são diretos. Para a especialista, crianças de maior poder aquisitivo tem maior probabilidade de progredir durante a pandemia do que as que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Como será o processo pós-pandemia

Para Joana Portolese, o período pós-pandemia representa também novos desafios aos autistas. Por estarem há meses em suas casas, terem desenvolvido rotinas fixas e estarem adaptadas e apegadas ao “novo normal”, os portadores da síndrome terão que iniciar um novo processo de adaptação quando as atividades retornarem, o que tende a demorar novamente.

As crianças, por exemplo, terão dificuldades para retornarem ao ambiente escolar, afinal todas as questões sensoriais que foram pouco trabalhadas durante todos os meses de reclusão serão novamente testadas. “Voltar com os barulhos, com os estímulos sensoriais e com as demandas sociais serão os principais desafios”, projeta Portolese.

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