Raios cósmicos unem universidade e escola pública

Detector de raios cósmicos será instalado em escolas estimulando a vivência científica de alunos

Desenho conceitual de uma estação de monitoramento de raios cósmicos. A ideia é ter uma estação dessas em cada escola participante do projeto. Crédito: Marco Leite / Arquivo pessoal

A universidade pública tem como um dos principais objetivos a difusão de conhecimento. Nesse sentido, surgiu o projeto Rede de Colaboração Científica entre Escola e Universidade, coordenado pelo professor do Instituto de Física Marco Leite, que visa aproximar alunos de Ensino Médio do estudo científico experimental a partir da implantação de uma rede de detectores de raios cósmicos em escolas secundárias no Brasil. Sua implementação seria em março de 2020, e foi afetada pela pandemia e pelo isolamento social, tendo seu andamento paralisado.

O propósito da Rede de Colaboração Científica é buscar o envolvimento dos alunos na interpretação de dados e no processo de descoberta científica, de forma a retribuir o conhecimento da universidade para a sociedade. “Faz parte da construção da cidadania o acesso à informação científica”, complementa Marco Leite.

O projeto teve como inspiração o evento de divulgação científica CERN Masterclasses, uma iniciativa do CERN, maior laboratório de física de partículas do mundo. O evento leva os estudantes para as universidades participantes do projeto e estimula a análise de vários tópicos dentro do tema de física de partículas, com o intuito de promover o contato dos alunos do Ensino Médio com experimentos científicos e pesquisa de física. De acordo com Ivã Gurgel, integrante do projeto de experimentação de raios cósmicos e também professor do Instituto de Física, a ideia agora é construir um aparato instrumental que vá para a própria escola, permitindo que os estudantes façam medições e análises sem precisarem sair dela.

Tela de monitoramento da estação de monitoramento de raios cósmicos. Crédito: Arquivo pessoal / Marco Leite.

Nas escolas participantes, o projeto do Instituto de Física possui parceria institucional firmada com quatro escolas, duas de São Paulo e duas do Rio Grande do Sul. Há também cerca de 4 outras instituições de ensino que demonstraram interesse em participar. “Há casos de escolas que possuem interesse, mas também preocupações de ter uma infra-estrutura adequada ou como inserir o projeto no planejamento pedagógico”, explica o professor Marco Leite.

Encontro com os professores de escolas parceiras realizado em Novembro de 2019 para a apresentação do protótipo da estação de monitoramento de raios cósmicos em operação. Crédito: Arquivo pessoal / Marco Leite.

O grupo da Rede de Colaboração Científica também desenvolveu um modelo de parceria em que uma escola privada possa financiar o arranjo do equipamento para uma escola pública. “Isso permitiria que o projeto ganhasse um alcance maior, sem envolver iniciativas de financiamento convencionais. Mais importante do que isso, cria essa rede de colaboração entre as escolas”, continua Leite.

Os integrantes do projeto já consolidaram um protótipo de dispositivo que pode ser facilmente instalado nas escolas, sendo flexível o bastante para a realização de várias atividades. Esse aparato experimental utiliza alta tecnologia de baixo custo para detecção de partículas. No entanto, segundo o coordenador da iniciativa, os desafios psicológicos são muito mais densos do que a parte técnica de produção dos equipamentos.

Imagem do protótipo de uma estação de monitoramento de raios cósmicos em operação. Crédito: Marco Leite / Arquivo pessoal.

“Temos o desafio de encarar a parceria entre escolas e universidade como uma parceria de educação em conjunto, colocando as duas instituições em pé de igualdade”, comenta Gurgel. Segundo o pesquisador e professor do IF, caso não houvesse a pandemia e o isolamento social em 2020, a equipe teria ido nas escolas parceiras fazer o planejamento pedagógico de como utilizar os detectores.

Alguns professores acreditam ser possível discutir a temática de raios cósmicos nas próprias aulas de física, já outros preferem fazer como uma atividade extra, devido ao programa a ser cumprido. “Cada escola deve ter um planejamento personalizado”, complementa Gurgel.

O segundo nível de andamento do projeto seria a circulação dos dados e análises obtidos pelos alunos entre as escolas participantes, fomentando a troca de aprendizados e dados entre a rede de estudantes.

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