Uma equipe formada por estudantes e docentes do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) produz conteúdo para alimentar o Laboratório Virtual de Mecânica, um portal online com experimentos em vídeo sobre conteúdos da física da movimentação. O projeto consiste em filmagens de experiências reais de objetos em movimento, que permitem análises quantitativas e aplicação de conteúdos teóricos. A iniciativa foi se aprimorando ao longo dos 14 anos de existência e, atualmente, tem visibilidade em outros países, além de desenvolver nos estudantes habilidades essenciais para profissionais da área.
O projeto foi resultado de uma iniciativa financeira da Pró-Reitoria de Graduação da USP visando estimular a produção de material didático. A professora Nora Lia Maidana e o professor Vito Roberto Vanin, coordenadores do laboratório, contam que organizaram uma equipe de monitores, que recebiam bolsas para desenvolverem a iniciativa. “O material inicial era apenas uma filmadora e várias cabeças pensantes. No primeiro grupo de alunos, tínhamos um estudante de pós-graduação da ECA (Escola de Comunicações e Artes), que foi essencial, já que sabia usar uma câmera de vídeo e bons programas de edição”, relata Vanin.
Os coordenadores explicam que, durante as aulas teóricas de física, pode ser difícil para alguns alunos visualizarem e compreenderem a mecânica que envolve determinado movimento. Assim, o projeto surge como uma maneira de contextualizar o que está sendo ensinado e fazer com que os estudantes desenvolvam a capacidade de medição. “Queremos que os alunos adquiram a habilidade de lidar com dimensões e usar um conhecimento mais amplo que o teórico. Outros sistemas on-line fornecem os cálculos já prontos, enquanto nós apostamos na elaboração própria do aluno”, complementa a professora Maidana.
“A ideia é sempre trabalhar com o registro de um movimento real, não simulado. Em uma simulação, aplicamos a teoria e conseguimos ver o que havia sido previsto. Com os experimentos, fazemos o contrário: registramos em vídeo algo real, analisamos matematicamente e, só assim, descobrimos se é possível explicar aquilo com a teoria”, relata Vanin. Segundo ele, a escolha da física mecânica como área de estudo não é por acaso, pois colocar os fundamentos mecânicos em prática é algo concretizável. A partir do momento em que a física passa a abranger o mundo macro e microscópico, o estudo se torna muito abstrato e o estudante precisa se conformar em atingir esse conhecimento por meio de instrumentos.
As experiências sempre contêm um ou mais objetos em movimento e algo que permita fazer medidas, como um plano quadriculado, uma trena ou um transferidor. Desse modo, além do registro em vídeo, a equipe utiliza planilhas de cálculo, realiza interpretação de gráficos e produz roteiros sobre o experimento em questão. Maidana conta que a aquisição de uma câmera que filma alta frequência foi essencial para o avanço do projeto, já que muitos dos experimentos não conseguem ser analisados minuciosamente sem equipamentos adequados.
O financiamento vindo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo ( Fapesp), que permitiu a compra da câmera, também possibilitou ampliar as experiências e trazer reconhecimento para o projeto. A equipe visitou a Argentina graças à iniciativa e, hoje em dia, o site recebe visualizações de diversos locais do globo. Além disso, uma aluna de doutorado do IF utiliza os vídeos para alunos de Ensino Médio na escola em que leciona, o que valida mais ainda a tentativa de ilustrar os conceitos físicos. A tendência do projeto é ampliar cada vez mais as temáticas: “algum dia, pretendemos fazer um livro de mecânica baseado nas experiências que temos no Laboratório Virtual”, revela a professora.
Faça um comentário