Um estudo busca desvendar o desenvolvimento da locomoção de bebês em função da interação com o ambiente. A ideia é mapear emergências, transições e adaptações dos comportamentos de locomoção, avaliando fatores do ambiente físico e do contexto sociocultural nos quais o bebê está inserido.
Esse é o tema da tese de doutorado de Maylli Graciosa, pela Escola de Educação Física e Esporte da USP, que ainda está em andamento. A pesquisa se baseia nos estudos da psicóloga e professora Karen Adolph e seu grupo, da Universidade de Nova York, no campo do desenvolvimento motor infantil. Contudo, em vez de realizar os experimentos em ambientes que simulem a realidade do bebê, Maylli pretende aplicar os seus diretamente no ambiente domiciliar e em creches.
O método
A pesquisadora explica que uma parte do método consiste em aplicar questionários e entrevistas aos pais e cuidadores de crianças entre cinco e 18 meses de idade. O objetivo dessa etapa é avaliar os aspectos relacionados ao ambiente físico, as experiências domiciliares dos bebês e as crenças dos seus responsáveis.
“Os pais têm expectativas em relação ao aparecimento de algumas habilidades motoras. Por exemplo: se uma mãe acredita que seu bebê deve sentar aos seis meses, é muito provável que ela comece a incentivar a prática dessa posição um pouco antes”. Outro exemplo é o receio que a mãe pode ter em deixar a criança livre para brincar, colocar no chão, deixar de barriga para baixo para ele levantar a cabeça etc. Todas as crenças que os pais têm podem influenciar na aquisição dessas capacidades.
A outra parte do método envolve a observação, com filmagem, da atividade espontânea de cada criança em uma situação experimental, durante 30 minutos. Nessa etapa, será utilizado um sistema de localização indoor para rastrear o bebê, a partir da tecnologia de identificação eletrônica por radiofrequência. Isso porque o sistema de GPS não funciona bem para ambientes fechados. Os dados coletados serão usados para descrever padrões de movimento nos comportamentos observados e identificar turnos de locomoção: “Eu preciso rastrear os bebês porque também quero ver a trajetória do deslocamento que eles vão fazer na situação experimental. Isso nos dá informações sobre como eles exploram o ambiente”.
O foco é o “como”
A doutoranda explica que existem muitos estudos voltados para o desenvolvimento da locomoção, porém a maioria deles tiveram como foco entender o que muda nesse processo, e quando ele muda. Contemplando os fatores ambientais, sua pesquisa busca, em vez disso, compreender como esse desenvolvimento muda.
Ela diz que dados como datas e durações das fases de desenvolvimento da locomoção serão registrados. No entanto, o mais importante para ela é o caminho que cada criança toma para chegar no andar. A trajetória de desenvolvimento que cada criança segue entre os diferentes comportamentos de locomoção é o ponto central da sua pesquisa.
“Minha visão é de que o conhecimento desenvolvido por esta tese possa contribuir para a intervenção em crianças com risco de atraso no desenvolvimento, ou com alterações neurológicas”, explica Maylli, que é também Mestre em Fisioterapia pela Udesc.
Manejo e exploração do ambiente
Tendo em vista sua abordagem, Maylli afirma que a evolução da locomoção dos bebês nem sempre é influenciada pelo tamanho do seu local de residência: “Depende mais da prática dos pais em relação à criança e ao ambiente. O bebê pode morar em uma casa enorme, mas os pais não o deixarem livre nesse ambiente”.
Crianças pequenas não precisam de muito espaço para locomover-se, pois geralmente deslocam-se apenas um ou dois metros, mudando de direção. O mais importante para a doutoranda e sua pesquisa é o modo como os pais administram o espaço do bebê e como ele fica posicionado nos primeiros meses.
Isso remete novamente à importância das crenças e comportamento dos responsáveis no desenvolvimento motor dos pequenos. “Já se sabe que uma criança que fica muito tempo no berço, carrinho ou bebê conforto tem menos oportunidade de movimentação. Isso pode atrapalhar sua aquisição de movimentos, que vem pela exploração do ambiente”.
Faça um comentário