Pesquisa aborda as questões socioambientais envolvidas na realização de corridas de aventura

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Carolina Bartoletti é formada pela Escola de Educação Física e Esporte da USP e desenvolveu sua dissertação de mestrado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, correlacionando esporte e ecologia. Sua pesquisa estuda a integração das corridas de aventura (esporte que dentro de uma competição única inclui várias modalidades) com o meio ambiente em que ocorre. Carolina conta que já há estudos que apontam os potenciais impactos ambientais causados pelas atividades e, por isso, seu objetivo foi auxiliar o estabelecimento de medidas de planejamento e manejo para melhor acomodar tais manifestações esportivas considerando as realidades da demanda do uso público recreativo e dos objetivos de conservação das unidades de conservação brasileiras.

Nem todos os eventos de esportes de aventura vão causar impactos socioambientais, afirma a pesquisadora, já que tais processos dependem de fatores como as características ecológicas do ambiente (vegetação, tipo de solo, períodos de chuva, as espécies de animais que habitam, dentre outras) e do tipo de atividade física que está sendo ou será praticada ali. Por exemplo, “um rali de automóveis vai ter muito mais potencial para causar compactação do solo do que uma trilha de mountain bike”, afirma a pesquisadora.

Carolina acrescenta que não há uma linha de pesquisa no Brasil equivalente ao que no exterior é chamado de recreation ecology estudo dos potenciais impactos positivos e negativos que atividades recreativas ao ar livre podem causar e sobre  como gerir esse tipo de atividade levando em conta que o uso público de algumas categorias de áreas protegidas é garantido por lei. Devido a essa realidade, a pesquisadora conta que começou a se questionar o quanto as pessoas que trabalham com  ou que praticam atividades de aventura teriam conhecimento sobre os potenciais impactos das mesmas. Assim, a realização da pesquisa se deu por meio de entrevistas com questionários de autopreenchimento online com três grupos de interesse nas corridas de aventura: atletas, organizadores e gestores de parques nacionais.

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Em relação à pergunta presente nos questionários, “você percebe ou acredita que as corridas de aventura podem causar impactos socioambientais?”, ela diz que as respostas recebidas geraram o resultado esperado, mas, ainda assim, curioso. Segundo ela, a maioria dos gestores de parques nacionais (mais de 90% da amostra) reconheceu que a realização dessa atividade gera impactos positivos e negativos, enquanto o grupo dos atletas e dos organizadores, em sua maioria, não reconheceu o potencial de impactos negativos das corridas, como a possibilidade de causar erosão, distúrbio da fauna, pisoteio excessivo da vegetação e outros. A pesquisadora ainda ressalta que esses dois últimos grupos reconheciam muito o potencial de impactos positivos das corridas, como promoção da saúde, incentivo a prática de atividade física, socialização e outros.

Ela conta que o questionário dos organizadores também trazia uma questão que pretendia averiguar se no planejamento ou no regulamento das corridas havia alguma medida de prevenção dos potenciais impactos negativos. “Por se tratar de um questionário de autopreenchimento, eu não esperava esse resultado, uma vez que o entrevistado pode mentir para alcançar a expectativa social, entretanto, a amostra entrevistada disse, em sua maioria, não incluir essas questões socioambientais no planejamento e nem no regulamento”, conta Carolina.

Além dessas perguntas os questionários contavam com muitas outras. Assim, a partir dos resultados, Carolina e sua orientadora elaboraram diretrizes para se pensar na organização dos esportes de aventura (o que inclui as corridas de aventura) levando em conta esses potenciais impactos e como minimizá-los caso aconteçam. Ela ressalta que as diretrizes são apenas uma base com instruções ou indicações para se estabelecer um projeto, já que não é em todo tipo de ambiente nem com todo tipo de esporte que os impactos podem acontecer, já que dependem de quais modalidades vão estar inseridas naquela competição, do tipo de solo presente, do regime de chuvas, da época do ano, entre outros fatores.

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