Cigarro diminui eficácia da vacina contra gripe

Substância presente na fumaça do cigarro prejudica vacinação contra o vírus influenza

Fumaça de cigarro com grandes concentrações de hidroquinona. Fonte: Pixabay

A hidroquinona (HQ) é uma substância muito utilizada para branquear áreas de pele escura, como sardas, cicatrizes ou manchas de idade. Porém, ela também é um poluente ambiental importante que pode ser liberado na atmosfera pela combustão de madeira ou de combustíveis. Hoje em dia, a forma mais comum de exposição à HQ é por meio da fumaça do cigarro, que contém grandes concentrações dessa substância.

Em trabalhos anteriores, um grupo de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP concluiu que a exposição à hidroquinona prejudica a resposta imune inata – nasce com os indivíduos – e a resposta imune adquirida – desenvolvida ao longo da vida. Em trabalho recente, que resultou na dissertação de mestrado de André Luiz Fabris, orientado por Sandra Helena Poliselli Farsky, também da FCF, o grupo observou mais especificamente o efeito provocado por essa substância sobre a resposta imune adquirida através da vacinação contra o vírus influenza, causador da gripe.

De acordo com Fabris, seu objetivo inicial “foi avaliar se a hidroquinona, já descrita como um poluente ambiental importante, poderia causar prejuízos no sistema imunológico em um cenário de imunização ativa ou vacina, visto que já haviam relatos que ela tinha capacidade de interferir em outras funções desse sistema”.

Campanha de vacinação contra a gripe. Fonte: Tribuna do Interior

Para realizar os estudos, um modelo de experimentação animal foi utilizado. Assim, camundongos foram expostos à essa substância diariamente, por 8 semanas, via nebulização – inalação da fumaça – para tentar simular o que acontece com o sistema respiratório quando entra em contato com o cigarro. “Durante esse período, estes animais foram vacinados contra a gripe, com a mesma vacina que é utilizada na população”, explica Fabris. “Então, testes laboratoriais foram realizados para avaliar se a resposta imune dos animais vacinados apresentaria alguma alteração decorrente da exposição à HQ”.

O trabalho revelou que a HQ não causou intoxicação grave nos animais. Porém, quando a imunidade dos camundongos foi avaliada, foram observadas modificações na estrutura dos órgãos relacionados à resposta imune adquirida – baço e linfonodos. “Os animais expostos à HQ diariamente, por um período prolongado, não apresentaram sinais ou sintomas de que estavam intoxicados”, informa o pesquisador. “Isso reflete o que acontece na realidade, pois somos expostos diariamente a substâncias tóxicas, mas nem sempre temos sintomas”.

Além disso, Fabris conta que um aumento do estresse oxidativo no baço foi observado. Ou seja, houve um aumento da formação de substâncias tóxicas neste órgão, o que explica, em partes, as alterações morfológicas observadas. O pesquisador também enfatiza que como a “formação da resposta imune contra os vírus presentes na vacina acontece nestes órgãos, estas alterações sugerem fortemente um efeito prejudicial da HQ na vacinação”.

Ainda de acordo com Fabris, o cenário atual das vacinas é preocupante, visto que muitos boatos parecem surgir e confundir a população: “Não sei de onde surgem tantos mitos, como que as vacinas sejam tóxicas ou que causem autismo, mas isso não é verdade”, conta. Ele ainda afirma que “há diversos estudos comprovando sua eficácia e segurança. O grande problema é não se vacinar e ficar suscetível às doenças”.

Com isso, os resultados desse trabalho também são alarmantes, pois um poluente ambiental pode estar interferindo na eficácia das vacinas: “Se existe uma substância presente no ambiente, que pode diminuir a eficácia da vacina, isso significa que muitas pessoas vacinadas podem estar desprotegidas. Estes achados são inéditos. Pela primeira vez foi mostrado que a HQ causa toxicidade no baço e nos linfonodos”.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*