Com o avanço de novas tecnologias e o — cada vez mais presente — fenômeno do envelhecimento populacional, estudar maneiras de inserir o primeiro de forma a promover uma transferência mais saudável ao segundo segundo torna-se um grande paradigma no ambiente acadêmico. A pesquisadora Jéssica Maria Ribeiro Bacha, do departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FOFITO) da Faculdade de Medicina da USP, em sua dissertação de mestrado “Efeitos dos jogos Kinect Adventures comparados com a fisioterapia convencional no controle postural de idosos: ensaio clínico randomizado”, discorre a respeito de como a realidade virtual pode ser utilizada no incremento da qualidade de vida da população idosa.
“O uso de jogos de videogames já vinha sendo testado positivamente em populações com doenças neurológicas (como Mal de Parkinson, AVC). Então, pensamos por que não tentar sua aplicação ao processo de envelhecimento?”, questiona Jéssica a respeito das preliminares de sua dissertação. Ela ainda completa: “Eles [os videogames] são ricos em demandas motoras e cognitivas; podemos estudar e aplicar formas de estimular a capacidade funcional”.
Participaram do estudo 50 idosos robustos (ou seja, com patologias controladas), separados em dois grupos (um controle, que participaria de atividades de fisioterapia convencional, e um responsável por praticar atividades a partir dos jogos Kinect Adventures). Todos os sujeitos foram submetidos a 14 sessões de intervenção, duas vezes por semana, por sete semanas, a fim de desenvolver o controle postural, marcha e demandas cardiopulmonares.
Os resultados foram contundentes: “Os jogos foram tão bons quanto a fisioterapia convencional, todas as variáveis [controle postural, marcha, capacidade cardio respiratória, humor, qualidade de vida e cognição] apresentaram melhoras, o que permite validar o uso dessa ferramenta como algo complementar aos métodos tradicionais”, comemora a cientista.
Jéssica ainda vai além e aponta uma série de vantagens da fisioterapia com o uso da realidade virtual: “O jogo é muito mais completo em feedback visual e auditivo, motivador (com os critérios de pontuação e competitividade) e rico em cenários e níveis; além de estimular a prática de exercícios físicos, através de componentes lúdicos e da intergeracionalidade [capaz de unir gerações]. Ela ainda aponta para o fato do grupo que usou o videogame demonstrar muito mais gosto e interesse, em relação aos que foram submetidos a técnicas convencionais.
A respeito desse caráter multigeracional dos videogames, a pesquisadora traz uma história curiosa de um paciente de sua amostra: “Durante uma sessão, um filho de um dos pacientes me ligou perguntando a marca dos videogames, porque ele ia presentear o pai. Iria comprar o equipamento para fazer uma competição entre avós e netos durante a ceia de natal. E ele fez mesmo! Essa intergeracionalidade é comprovadamente benéfica na melhora do desenvolvimento cognitivo de idosos”.
Entretanto, apesar dos resultados, a fisioterapeuta alerta: “No Brasil, a adesão da realidade virtual, em centros públicos e privados, infelizmente, ainda é muito recente e restrita. Existem alguns centros de longa permanência para idosos que já o implementaram como forma terapêutica e reabilitadora; mas são poucos”. Ela ainda completa: “Infelizmente, essa terapia ainda necessita ser supervisionada, tanto para instalar os jogos quanto devido ao risco de queda em alguns movimentos demandados. Não temos estudos suficientes ainda para que seja considerada um tipo de terapia domiciliar”.
Jéssica reafirma que, apesar de extremamente animador, o uso de recursos de realidade virtual (como os jogos Kinect Adventures), ainda é limitado, tendo em vista os altos preços desses recursos.
Bom dia Jessica! Parabéns pelo seu trabalho em prol do Idoso. Estou orgulhosa e gratificada por ter participado desse estudo com você. Desejo que tenha bastante êxito no seu projeto. Felicidades!