Um estudo realizado no Instituto de Estudos Brasileiros traz a público 31 cartas inéditas do mecenas e escritor Paulo Prado destinadas ao historiador cearense Capistrano de Abreu. Na correspondência, observa-se a relação desenvolvida, a partir de indícios que apontam a orientação intelectual dada pelo historiador, e que consequentemente impactam diretamente nas influências do autor. Ainda, o estudo dessa relação mostra-se essencial para uma maior compreensão do processo de trabalho de Paulo Prado e suas referências.
O paulista, autor da obra “Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira”, foi também um importante cafeicultor, participou da organização da Semana de Arte Moderna de 1922 e era um grande mecenas das artes e humanidades. Fascinado pelas interpretações sobre o Brasil, Marcel Villemor, mestrando no programa de Culturas e Identidades Brasileiras do IEB, o escolheu como objeto de seus estudos: “Fiquei muito intrigado em descobrir o motivo pelo qual um livro com polêmica até no nome fora tão pouco estudado”, brinca Marcel. “Prado reúne em si elementos interessantes da década de 1920. Suas ideias retratavam muito bem o pensamento de uma elite que começou a fraturar, se pulverizando e perdendo, assim, poder político a partir do golpe de 1930”, defende.
“O caminho que adotei foi tentar reunir o maior número de informações possíveis para desvendar as razões e motivos por trás dessas atuações variadas”, explica Marcel. Frente a um homem tão complexo, sua pesquisa se ramificou em algumas etapas. Para buscar uma melhor compreensão da obra de Paulo Prado, o pesquisador entrou em contato com a bisneta do autor. Além disso, acessou sua biblioteca particular, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, que abriga centenas de livros e cadernos de notas. A maior descoberta da pesquisa, porém, foi encontrada um pouco mais longe no mapa. No Instituto do Ceará, vasculhando o acervo de Capistrano de Abreu, Marcel encontrou cartas inéditas escritas por Paulo, trocando ideias e opiniões com o historiador.
Numa outra etapa do estudo, foi feita uma análise em comparação com as obras “Capistrano: O descobrimento do Brasil” e “Capítulos de História Colonial”, com a obra de Prado. O resultado evidencia a relação entre os dois, sendo possível apontar no texto diversas “participações” do historiador cearense. “Prado acabou por utilizar Capistrano como um fiador para propor a sua visão do Brasil”, explica Marcel.
Com as informações reunidas pela pesquisa, uma nova ideia a respeito de Paulo Prado é apresentada: “a proposta de observá-lo como um ideólogo de classe, observando sua obra como um manifesto político de sua época, e não tanto como uma obra com objetivos históricos”, explica Marcel. “A pesquisa permitiu observar a figura de Paulo Prado por novas perspectivas, tirando de seu livro pretensões como a de ‘fazer história’. Prado era no fundo um indivíduo de formação humanista, mas, acima de tudo, um homem de negócios, um homem prático”, conclui.
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