Uso de vitaminas C e E é considerado adequado para conservação de gametas de salmão congelados

Descoberta tem aplicações interessantes para a indústria de criação do peixe

Crédito: Valeria_aksakova / Freepik

Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF/USP) buscou determinar se o α-tocoferol, popularmente conhecido como vitamina E, e o ácido ascórbico, ou a vitamina C, seriam bons conservantes para a criopreservação do esperma do Salmão do Atlântico (Salmo salar). “São antioxidantes com resultados ótimos. Os demais pesquisadores podem utilizar sem problema. Trata-se de uma das aplicações biotecnológicas mais interessantes de toda a minha pesquisa”, conta Elias Figueroa Villalobos sobre os resultados que obteve em seu trabalho.

A pesquisa de Elias foi desenvolvida em um duplo-doutorado sanduíche, realizado metade na Universidad de la Frontera (Ufro), no Chile, e metade na USP, entre 2014 e 2017. Ao retornar a seu país de origem, Elias recebeu um prêmio de melhor formando da pós-graduação pelo trabalho realizado.

A escolha pelo tema se justifica pelo fato de que Chile é o segundo maior produtor mundial de salmão, produzindo 800 mil toneladas do peixe por ano, segundo dados do Globo Rural. O pesquisador explica a importância de sua pesquisa nesse contexto: “Manter os peixes em cativeiro é muito custoso para as empresas. Então, é tecnologicamente mais importante criopreservar as células ou os gametas”. A criopreservação de sêmen já é um método amplamente utilizado na indústria de criação animal. Consiste no congelamento desse material genético a temperaturas criogênicas, ou seja, abaixo dos −150°C, com a intenção de utilizá-lo quando necessário, sem depender do processo natural de reprodução dos animais. No caso do salmão, em específico, Elias relembra que há um fator complicador: “Os salmões, em geral, são complexos. Eles têm etapas no mar, em água salgada, e depois em água doce. Essa condição dos peixes faz com que fiquem fisiologicamente diferentes e as células estão afetadas por essa condição, deixando o processo mais complexo”.

O orientador de Elias no Brasil, o professor da FCF Ricardo de Souza Oliveira, explica que a criopreservação costuma ter um efeito negativo no esperma do peixe: ”O efeito do congelamento altera muito a célula. Podem haver perdas de velocidade e de capacidade fecundante”. Por isso, a busca por conservantes que ajudassem a manter o esperma do salmão em melhores condições de utilização.

O professor esclarece que a grande novidade do estudo foi associar o uso dos antioxidantes à criopreservação: “Sabíamos que os antioxidantes tinham resultados positivos para manter a integridade celular, mas nunca tinham sido utilizados em função da criopreservação”. Através de técnicas que mostram a chamada ultraestrutura da célula [microscopia eletrônica] e que permitem fazer uma análise dentro da célula [citometria de fluxo] foi possível determinar que os antioxidantes escolhidos eram conservantes adequados para a criopreservação, com células descongeladas que apresentavam atividade muito próxima a de células frescas.

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