Novas técnicas geram síntese e efeitos de áudio

Pesquisa no IME propõe alterações inovadoras com relação ao som

Espectrograma de frequência por tempo. Fonte: Antonio Goulart

Ao ouvir uma música, qualquer seja o gênero, dificilmente uma pessoa pensa sobre as alterações que os sons dos instrumentos passaram para chegar ao resultado final. É sobre esse tópico que o pesquisador Antonio Goulart, orientado por Marcelo Queiroz, se propôs a pensar em conjunto com o Grupo de Computação Musical do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP). Em sua pesquisa, ele criou novas técnicas para gerar efeitos de áudio bem diferentes dos que se está acostumado a ouvir.

As novas técnicas propostas se baseiam na modulação e moldagem de sinais. O primeiro termo se refere, de maneira simples, à alteração de algum parâmetro característico de uma forma de onda sonora, como a frequência ou a amplitude. “É justamente essa variação dinâmica de um ou mais parâmetros que introduz um drama no som, um interesse musical, um pouco do discurso artístico”, diz Goulart. Já a moldagem, segundo Marcelo Queiroz, “tem a ver com pegar um certo desenho, a forma geométrica desse sinal sonoro, e mapear os valores dessa função de uma maneira sistemática, por exemplo, converter tudo que é curva em linhas retas ou uma outra coisa assim”.

Como exemplo de moldagem, Goulart cita a distorção, muito observada no som de guitarras de rock, mas que também se encontra em outros instrumentos. “Quando usada com uma configuração agressiva, ela vai gerar aquele som de guitarra de rock, bem distorcida, bem pesada, pois são muitos harmônicos vindos de um mesmo instrumento. Se utilizados com mais parcimônia, são gerados timbres mais suaves, mais leves, usados também em muitas situações. Tem a ideia de também utilizar um pouquinho de distorção em algum instrumento se você quer dar um realce para ele, por exemplo, o contrabaixo”.

Em sua pesquisa, Goulart estudou novas técnicas para síntese de áudio, preocupando-se em explorar e entender esses novos modelos. “Ele estava interessado em explorar técnicas bastante recentes para as quais o conhecimento sobre como os parâmetros matemáticos se transferem para o som, mas uma parte dessa transferência não era totalmente compreendida. O trabalho dele também envolve domar ou domesticar aquele modelo matemático para que ele pudesse se converter em uma coisa útil do ponto de vista artístico”, diz Queiroz.

O pesquisador enxergou novas possibilidades de utilização das ferramentas usadas para a síntese de áudio, aplicando-as para fazer uma manipulação de análise-processamento-ressíntese: “É a ideia de se fazer uma decomposição, uma análise de um sinal de entrada, quebrá-lo em outro tipo de sinal e então manipular esse novo sinal. Depois, ele é devolvido para a forma original, que é a forma de sinal de áudio, para que a gente possa ouvir essa alteração e assim esses efeitos de áudio são implementados”, explica Goulart.

Os efeitos propostos pela pesquisa estão disponíveis para download para que qualquer um que tenha interesse possa usá-los na música. Eles estão publicados como software livre, ou seja, possuem código aberto e qualquer um pode estudá-los ou alterá-los da maneira que achar necessário, o que facilita também os estudos acadêmicos em cima do trabalho.

Goulart acredita que existam duas principais motivações para a utilização de efeitos e síntese de áudio: uma motivação artística ou a necessidade de uma correção técnica. Seja para dar ênfase em algum instrumento no conjunto do som de uma banda ou para gerar uma sonoridade diferente característica de um determinado artista, essas técnicas estão muito presentes em quase tudo que ouvimos no dia a dia. É por meio desses efeitos que muitas vezes conseguimos identificar uma banda, época ou estilo musical apenas por meio do som.

Uma parte muito importante da pesquisa está na interdisciplinaridade da área matemática com a área artística. Goulart ressalta a relevância de se fazer essa ponte entre as duas áreas para despertar o interesse de alunos que podem considerar seguir uma carreira nas exatas e também para que os músicos sejam capazes de usar a tecnologia com mais propriedade em seu trabalho. “O grupo de computação musical trabalha com essa área que é muito interdisciplinar. A gente tem diferentes interesses e formações. É muito interessante porque o material é de muita qualidade, e isso é fruto desse interesse das pessoas tanto em aspectos técnicos quanto em aspectos artísticos.”, finaliza o pesquisador.

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