Ao largo do estado de São Paulo, ocorre um fenômeno no oceano. Uma corrente marítima vinda do leste do continente, rumo ao Brasil, se bifurca em dois ramos: um direcionado para o norte do hemisfério, e outro para o sul, sentido Antártica.
Chamada de Bifurcação de Santos, essa formação, constante e de médio porte, ainda é pouco estudada mundo afora. Foi com isso em mente que Ágata Piffer Braga decidiu por aprofundar o tema em seu trabalho de conclusão de curso, defendido no IO (Instituto Oceanográfico) recentemente.
A monografia foi desenvolvida ao longo de três semestres —um dos quais nos EUA, na Universidade Dartmouth. Nela, Braga selecionou e cruzou dados como temperatura e salinidade, obtidos de diversas expedições, para mapear características específicas das correntes que compõem a bifurcação.
Com isso, conseguiu produzir representações tridimensionais do padrão de funcionamento dessa formação. “Para você mapear [o movimento das correntes], precisa saber suas características horizontalmente. Como a gente quer saber todas as camadas até o fundo, teve de ser tridimensional”, explica. Os dados utilizados na pesquisa são sinóticos, ou seja, correspondem ao estado do oceano durante uma fração de tempo. “São como uma foto.”
Por que estudar correntes
“A gente conhece muito pouco das nossas correntes”, afirma Braga, hoje aluna de mestrado também pelo IO. Ela explica que esses fluxos de água interferem em todos os processos oceanográficos e que, portanto, podem oferecer respostas sobre a distribuição do calor pelo planeta — e suas consequências no clima, nos animais e no ambiente.
“O oceano é o grande fornecedor de calor para a atmosfera. Então o sol vai, esquenta o mar, e o mar distribui o calor para o resto do planeta. É por isso que os homens sobrevivem”, diz.
A utilidade dos conhecimentos em dinâmica oceânica não se limita à academia. As correntes podem ser empregadas nos cálculos do cisalhamento (tensão) sofrido por uma broca, por exemplo, durante a extração de petróleo: “Como é muito fundo, a pressão e a força que tem exercido sobre esses equipamentos é muito grande, então é interessante saber sobre as corrente para colocar nos cálculos.”
Não se sabe ao certo quais são as causas da Bifurcação de Santos. No entanto, Braga especula que haja influência da rotação da Terra e da diferença de pressão na água salina, como ocorre em outras correntes no planeta.
Faça um comentário