Ressurgimento da natureza política dos bancos centrais é capaz de estimular atividade econômica

Tese de pesquisador da USP analisa recuperação dos bancos centrais mexicanos pós-crise de 2008

Crédito: site CADEFI

A crise de 2008 representou uma ruptura do então posicionamento neoliberal adotado pelos bancos centrais. Desde da década de 90, prevalecia um consenso teórico de que a maior autonomia dos bancos centrais diante do contexto político era necessário para controlar a inflação, já que esta estaria desvinculado dos interesses eleitorais.

O pesquisador Fernando Marques, no entanto, ao observar o conteúdo das decisões da política monetária adotada pelo Banco México de 2009 a 2014, percebe uma mudança de atuação se comparado aos 25 anos anteriores no que concerne às decisões de redução ou alta de juros.

Diante de um cenário denominado de fase negra, a Bolsa de Valores mexicana chegou a registrar, em 2014, três dias de perdas e quedas, além do preço do óleo que caiu cerca de 46% naquele ano, tudo isso também somado há uma desvalorização da moeda mexicana diante do dólar.

A crise monetária mexicana, estudada pelo pesquisador, está relacionada a três fatores principais: a exportação de petróleo, a remessa de recursos dos migrantes mexicanos e o setor de maquiladoras (empresa que importa materiais sem o pagamento de taxas, sendo que seu produto não será comercializado no país onde está sendo produzido), manufatura voltada para a exportação, em sua maioria para os Estados Unidos. Durante a crise de 2008, as principais remessas mexicanas ficaram prejudicadas principalmente devido ao enorme vínculo e dependência dos Estados Unidos, profundamente afetado pela crise. Esse efeito-contágio sobre a economia mexicana foi ainda mais imediato devido ao NAFTA (acordo de livre comércio que aumentou a interdependência produtiva entre os Estados Unidos e o México).

Como nesse cenário “o dinheiro já estava muito barato para ser barateado”, conforme menciona o pesquisador, os bancos centrais, sem a opção da taxa de juros para estimular a atividade econômica, que tiveram que optar por outras formas de controlar a inflação, como a compra direta de ativos do mercado local.

Por meio dessa abordagem a taxa de juros mexicano manteve-se praticamente inalterada por dois anos, como aponta a tese Os efeitos da crise financeira sobre a autonomia dos bancos centrais: as decisões do Banco do México entre 2009 e 2014  – em um padrão civilizado de 3,5% ao ano, destoando dos seus vizinhos latinos-americanos como o Brasil, com taxa batendo os 5% na época.

“No caso do México, isso pode ser tanto um reflexo de seu conservadorismo e aderência ao consenso técnico dos 1990, como também um sinal de que as sensibilidades políticas do momento tiveram algum impacto nas decisões da Junta de Governadores do Banxico”, afirma Marques.

Para o pesquisador, os bancos centrais são os guardiões da moeda do país. Ou seja, são os responsáveis por ditar as relações domésticas de consumo e investimento, assim como capazes de afetar o comércio exterior e os investimentos estrangeiros. Marques admite que ao começar a tese possuía uma visão mais ortodoxa em relação a necessidade de autonomia dos bancos centrais. Mas, ao longo da pesquisa, percebeu que “os bancos centrais são, sim, fundamentalmente, políticos.”

 

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