Operação Lava Jato na mira da imprensa internacional

Especialista em Relações Internacionais analisa cobertura da Operação Lava Jato por jornais estrangeiros; escândalo de corrupção teria impactado imagem externa do Brasil

Montagem feita com sobreposição de home pages - Imagens: Divulgação/ The Wall Street Journal, La Nacion, La República, El Comercio, The New York Times

A operação Lava Jato não foi assunto só na mídia brasileira. Nas páginas de jornais como o The New York Times e The Wall Street Journal, o escândalo de corrupção influenciou a forma que o Brasil é visto internacionalmente. Para entender essa influência, Gustavo Ferreira Alves, mestrando do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI), analisou a cobertura jornalística do evento por 6 veículos de imprensa dos Estados Unidos, Argentina e Peru. O trabalho resultou na dissertação The car wash scandal in Brazil and abroad: analyzing the international media`s framings and political discourses, defendida no dia 2 de maio. 

A pesquisa quantificou os principais termos usados na cobertura do evento pelo The New York Times e The Wall Street Journal, dos Estados Unidos; El Comércio e La República, do Peru; Página 12 e La Nación, da Argentina. Alves conta que seu objetivo era tratar do escândalo de corrupção a partir de uma perspectiva externa. “Estudei os impactos dos casos de corrupção na imagem do Brasil internacionalmente, na política externa, como isso afetou as empresas. Enfim, de qual forma a imagem do país foi afetada por causa da corrupção”, ele diz. 

Os resultados apontam que a imagem internacional da operação mudou ao longo do tempo. Alves analisa a relação da opinião pública com a cobertura jornalística e as discussões que se estabelecem em cada país à medida que novos fatos são  revelados. 

Entre 2014 até 2017, quando a operação Lava Jato investigou e executou mandados de prisão contra agentes importantes do meio político e empresarial do Brasil, havia um otimismo internacional sobre a sua atuação. Gustavo Alves conta que, naquela época, jornais em campos ideológicos divergentes convergiam em enquadrar a operação como um avanço no combate à corrupção. 

“Há dois momentos da narrativa. No primeiro, a Lava Jato está sendo conhecida. Tem a questão do escândalo com a Petrobras. A imprensa é mobilizada em relação ao que a operação estava provendo de positivo, a visão que o que estava acontecendo era um sinal que o Brasil estava lidando com a corrupção de maneira mais rígida”.

 

Dois editoriais do The news York Times: o da esquerda, com o título “Como a operação Lava Jato está expondo o crime político no Brasil”, foi publicado em setembro de 2017. O da direita, “Operação Lava Jato não foi uma bala de prata”, publicado em fevereiro de 2021 – Imagem: Reprodução/ The New York Times

Alves aponta que esse foi um momento de fortalecimento das instituições judiciárias: “Os jornais buscavam os documentos produzidos pelo Ministério Público Federal como fonte. Principalmente no âmbito sulamericano, a Lava Jato era retratada como um novo momento do ciclo político no Brasil.” 

Depois de 2019, essa cobertura muda. O especialista aponta que a prisão do ex-presidente Lula e a Vaza Jato, consolidam um ceticismo na mídia internacional. “No New York Times, por exemplo, que tinha antes com um perfil de ‘defender’ a operação, passa a ser cético e a denunciar pontos e procedimentos abusivos. Nesse segundo momento, você vai ter a crítica aberta, associando a eleição do Bolsonaro à Lava Jato”.

Para Alves, essa mudança de enquadramento também foi resultado das cobranças do público sobre os jornais “Tem um processo de evolução, e a opinião pública participando nessa evolução. No princípio a narrativa era mais linear e a capacidade da mídia em influenciar a visão das pessoas era maior. Depois, isso fica mais complexo”. 

Por fim, ele destaca que, nos três países, a operação teve consequências diferentes. “No Peru, se fala que o país exportou corrupção, mas ofereceu soluções para isso. Há tendências de uma perspectiva mais positiva, que não se modifica tanto com o tempo. Nesse caso, temos que lembrar que a Lava Jato também foi um evento político. Todos os últimos presidentes peruanos passaram por um processo jurídico por causa de suas relações com a corrupção brasileira. Por sua vez, a repercussão na Argentina e nos Estados Unidos não foi tanta”. 

Para ele, o estudo contribui para entender a forma como o país é visto externamente, assim como reforça a perspectiva que os veículos de comunicação não são reprodutores neutros da informação, mas possuem uma perspectiva política que influencia na forma como a notícia é transmitida. Ele também entende que, com a dissertação, é possível demonstrar a dimensão da Lava Jato: “Não são só assuntos como guerra, economia internacional, que podem afetar a imagem que um país possui internacionalmente. Casos de corrupção também são capazes disso”. 

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