Pesquisa analisa milhares de genes para criar vacinas mais eficazes

Mecanismos que fazem uma vacina funcionar ainda são desconhecidos

A pesquisa Vacinologia de Sistema busca entender como é o funcionamento de uma vacina e quais genes são afetados. Foto: Reprodução scienceblogs.com.br

Por Carina Brito – carinadsbrito@gmail.com

Com a quantidade de doenças espalhadas por aí, é importante que a população se previna para não ser contaminada. Apesar de ser um método comum de proteção, os mecanismos que fazem uma vacina funcionar ainda são desconhecidos. A pesquisa Vacinologia de Sistema, realizada pelo professor Helder Nakaya da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, busca entender esses mecanismos e criar formas de produzir vacinas mais eficazes.

Algumas vacinas são mais efetivas do que outras. No caso da febre amarela e do sarampo, é muito raro contrair a doença depois que o indivíduo é vacinado. “A gente não entende direito os mecanismos e porque algumas vacinas funcionam melhor do que as outras. Um dos jeitos de investigar isso é analisando a atividade dos genes”, diz Nakaya.

O corpo humano tem cerca de 25 mil genes que codificam proteínas. Se há desregulação em algum deles, a célula do sistema imune pode não funcionar tão bem e se tornar um câncer. Para entender como uma vacina funciona é preciso ver a atividade desses genes. “Pego o sangue antes da pessoa se vacinar e após a vacinação e vou vendo as alterações que ocorreram no organismo. Depois uso uma técnica que consegue medir as atividades de todos esses genes em paralelo”. De acordo com Nakaya, a maioria dos genes analisados não sofre alteração. “Se algum gene sofre variação é porque tem relação com a vacina”, explica.

Quando são analisados milhares de genes em centenas de pessoas, são gerados muitos dados que seriam impossíveis de serem analisados sem ajuda de um computador. A vacinologia de sistema tenta entender os mecanismos moleculares usando essa quantidade de dados e medindo todos os genes, metabólitos e proteínas de uma pessoa e dizer quais deles são importantes para uma resposta efetiva de uma vacina. “Neste estudo, analisando toda essa quantidade de genes, é possível ter uma ideia muito mais ampla que você jamais teria sem essa quantidade de dados”.

Um dos projetos de que o professor Nakaya participa é feito nos Estados Unidos com a vacina da gripe. Era analisado o sangue da pessoa antes e no decorrer dos dias após a vacinação para medir os 25 mil genes com o objetivo de ver quais eram os que estavam ligados a resposta de anticorpo. “A proteção da gripe acontece porque as suas células produzem anticorpos contra o vírus para que quando você for realmente infectado, o sistema imune já o destrua. Sabendo qual é o gene afetado, é possível criar vacinas que os ativam e geram proteção ao corpo”.

Um dos genes que o sistema imune ativou foi o TLR5, que serve para reconhecer componentes bacterianos. Isso gerou uma dúvida do porquê de um gene relacionado a bactérias também estar relacionado a vírus. A hipótese é que esse componente estava vindo de bactérias que o indivíduo possui no intestino, as bactérias comensais, e que isso ajuda o sistema imune a responder contra o vírus da gripe.

É possível testar essa hipótese com a ajuda de camundongos e tratá-los com antibióticos para matar as bactérias presentes em seu intestino. “Vacinando esses camundongos, vimos que a resposta imune para eles também é menor e provamos que a vacina da gripe usa as bactérias comensais para ajudar a resposta imune”, afirma o professor. “Ou seja, analisando aqueles 25 mil genes, a gente achou um que tem relação com o vírus da gripe.”

Nakaya foi convidado para participar da Scientific Advisory Board na produção da vacina do ebola quando teve um surto da doença recentemente. “Eles desenvolveram uma vacina extremamente potente, mas que ainda não teve sua efetividade comprovada porque a epidemia de ebola terminou”, diz o professor. A vacina está pronta e deve funcionar, mas também gera efeitos adversos, como febre e dor de cabeça.

De acordo com Nakaya, quanto mais segura for a vacina, menor é a eficiência dela. “A vacina da febre amarela funciona extremamente bem, mas tem mais chances de ter um efeito adverso”.

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