Passeios escolares na rede pública de ensino são reduzidos nos últimos anos devido à falta de recursos

Alunos são os mais afetados com a extinção de políticas que incentivavam o acesso a espaços culturais e educativos

Imagem capa: Adobe Stock

Mais de 24 mil alunos da rede pública do estado de São Paulo visitaram o Jardim Botânico de São Paulo em 2013. Esse número foi 62% maior que a quantidade de estudantes da rede privada que passearam no local no mesmo ano. Com o fim do programa governamental Cultura é Currículo, que custeava visitas escolares em museus, parques e aquários, o número de visitantes de escolas públicas despencou 71% entre 2013 e 2019.

O gráfico mostra a queda das visitas escolares ao Jardim Botânico de São Paulo na última década. Fonte: Rodolfo Bezzon

Esses dados fazem parte da pesquisa do mestre em educação pela Faculdade de Educação da USP e professor da rede municipal da cidade de São Paulo, Rodolfo Bezzon. Ele é autor do estudo Espaços e atividades extraescolares segundo professores de ciências: contradições e possibilidades, que analisa a importância do ensino externo à sala de aula e os motivos pelos quais está ocorrendo uma diminuição contínua dessas atividades.

As iniciativas extraescolares envolvem visitas à espaços culturais e educativos que incentivem algum tema estudado em sala de aula. Essas atividades são importantes aliadas do currículo escolar devido ao estímulo que geram nos alunos em uma aula diferenciada e com recursos oferecidos fora do ambiente escolar. “Uma praça nos arredores da escola já pode conter recursos suficientes para o professor abordar o conteúdo a ser lecionado de uma forma diferente do que seria feito dentro da escola, por exemplo: numa aula de biologia, pode haver um jardim ou plantas que a escola não possui”, explica Bezzon.

Além da importância educacional, os passeios fora da sala de aula se mostram essenciais também do ponto de vista social. Segundo o professor, ao visitar os espaços públicos, os estudantes — principalmente os de origem periférica — têm a oportunidade de ocupar esses locais e se sentirem parte da sociedade.

Mesmo com todas as vantagens oferecidas pelas atividades extraescolares, muitas escolas não praticam iniciativas fora do espaço escolar. Os dados mais recentes da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção do portal Porvir, de 2019, mostram que 54% das instituições de ensino brasileiras não realizam visitas, passeios ou trabalhos fora da escola, ainda que 80% dos estudantes considerem essas atividades indispensáveis. A pesquisa ouviu 260 mil alunos entre 13 e 21 anos de todos os estados brasileiros.

O principal motivo para a ausência de passeios escolares é a falta de verba, como aponta Bezzon. Os professores das redes pública e privada reconhecem que os alunos se sentem mais motivados durante e depois das atividades, mas principalmente os de escolas públicas não possuem os recursos necessários para levar os alunos aos passeios. Os custos envolvem não apenas o local destino da atividade, mas também a alimentação, transporte e demais gastos que não podem ser repassados às famílias.

No caso das escolas particulares, os passeios são feitos com maior frequência, pois todos os valores são custeados pelos familiares dos alunos. “Alguns professores, que também lecionavam em escolas privadas, afirmavam que na particular isso [o custo] não era um empecilho, pois eram repassados aos pais e, assim, viabilizavam as atividades sem grandes dificuldades”, acrescenta o professor.

A principal ferramenta para o incentivo às visitas escolares em espaços culturais e educativos, segundo Bezzon, seria a redução dos custos de entrada. Além da possibilidade de o poder público custear os deslocamentos, alimentação e ingressos, as instituições das visitas também têm um papel importante. “As próprias instituições poderiam criar programas como a entrada franca em um dia da semana. Há inúmeras ideias que podem ser colocadas em prática e que podem fomentar a visitação e a democratização desses espaços”.

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