Instituto de Psiquiatria da USP analisa as condições dos transtornos mentais na pandemia

O grupo analisou quais foram as consequências da primeira onda de Covid-19 entre pessoas de 50 a 80 anos para entender como a saúde mental estava sendo afetada dentro deste cenário.

Foto: Freepik

Durante o último ano, pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (IPq-USP) se dedicaram a analisar o quadro clínico dos transtornos mentais em adultos durante a pandemia. Para isso, utilizaram dados da coorte ELSA-Brasil e, com o apoio e fomento da FAPESP, fizeram uma avaliação de cerca de 5 mil participantes, todos eles do estado de São Paulo.

Pedro Bacchi, médico residente em psiquiatria no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) conta que todo o estudo foi adaptado para ser realizado remotamente, de modo que os envolvidos ficassem em contato com os integrantes do grupo analisado mantendo a eficiência na coleta de informações. “Incluímos também um extenso questionário, levando em consideração antecedentes psiquiátricos/clínicos, hábitos, condições de vida financeira e doméstica,impactos da pandemia sobre diversas esferas da vida e muitas outras informações que julgamos relevantes” complementa, em entrevista à Agência Universitária de Notícias.

Ao fim de 2020, com os dados em mãos, o grupo tratou de organizá-los em busca de respostas e resultados para a proposta inicial da pesquisa. Com isso, foi identificado que pessoas mais jovens, do sexo feminino e de mais baixo nível educacional tiveram mais transtornos mentais durante a pandemia.

A respeito disso, Pedro afirma que existem aspectos do cotidiano que tornam esse cenário tão complexo: “lidar com as dificuldades financeiras que emergiram durante a pandemia, além de suportar a dupla jornada de trabalho e doméstica, colocam uma pressão muito elevada sobre estas populações”, detalha.  Por outro lado, ele também adiciona que a boa saúde física e qualidade das relações sociais são fatores protetores contra os prejuízos desse contexto. “Interessantemente, indivíduos que se sentem alinhados com as medidas tomadas pelo governo tiveram também menos adoecimento psiquiátrico.”, completa.

Paralelamente a isso, o médico diz que não houve um aumento significativo em transtornos psiquiátricos comparando antes e depois do contexto atual. “Algo importante a ser considerado é que o Brasil já apresentava níveis extremamente altos de adoecimento mental. É possível que estivéssemos próximos a um ‘teto’ do quanto uma população pode desenvolver doenças psiquiátricas”, explica. 

Perguntado a respeito de cuidados em relação à problemática analisada para garantir melhores condições de vida para a população, Pedro afirmou que os programas governamentais devem direcionar seu foco a indivíduos de minorias étnicas, de níveis socioeconômicos menos privilegiados e mulheres. “Se isso não ocorrer, podemos deixar a elas um legado sombrio não somente em questões sanitárias e financeiras, mas também na carga de sofrimento psíquico”, conclui.

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