Tratamento revolucionário contra câncer de mama é desenvolvido pela USP

O desenvolvimento de uma administração local para fármacos pode possibilitar um tratamento de alguns cânceres com baixos efeitos adversos

O medicamento poderia ser aplicado em pacientes que tenham câncer com características de menor invasividade e que apresentam lesões pré-tumorais. Foto: Bigman/Shutterstock.com.

Uma nova formulação de aplicação local contra o câncer de mama, desenvolvida por pesquisadoras do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB — USP), promete revolucionar o tratamento da doença, a partir da redução dos efeitos adversos do medicamento. 

A pesquisa foi realizada por Vanessa Franco Dartora, com orientação de Luciana Biagini Lopes e Leticia Veras Costa Lotufo, professoras do Instituto. Segundo Luciana, o ponto de partida para o estudo foi a análise dos métodos de tratamento da doença. “Existem vários tipos de câncer de mama, mas um dos mais comuns é o carcinoma ductal in situ, que se desenvolve nas paredes do ducto mamário”, ela esclarece. 

Geralmente, este tipo de tumor não é invasivo, localizando-se apenas nas paredes do ducto. Entretanto, não é possível prever se ocorrerá a invasão de outros tecidos e, por causa disso, seu tratamento convencional é o mesmo que de outros cânceres mais agressivos, colaborando para o surgimento de uma série de efeitos adversos, tais como náusea, queda de cabelo, cardiopatia, efeitos psicológicos e dores relacionadas à mastectomia.

A solução encontrada para melhorar a qualidade de vida desses pacientes foi desenvolver um método de administração local de medicamentos contra o tumor. “Desenvolvemos um nanocarreador para ser administrado no ducto mamário, adequado para as características dessa via, de forma que conseguíssemos administrar algo com segurança, atuando diretamente na região”, Luciana conta. A pesquisa, então, voltou-se para garantir que o fármaco ficasse retido no local, de modo que, além de diminuir a exposição sistêmica do organismo, o paciente precisasse administrá-lo um número menor de vezes ao longo do tempo.

“Esses nanocarreadores foram modificados de forma a lhes conferir características que fossem bioadesivas”, Vanessa adiciona, sinalizando a importância da permanência da substância na região desejada. Dartora explica que a função do nanocarreador é facilitar a entrega da substância nos ductos. “Quando temos um fármaco associado a um nanocarreador, temos características diferentes de quando ele está em uma forma convencional, como um comprimido, por exemplo”, ela diz.

Além da formulação que facilita a aplicação direta do medicamento na mama, a substância utilizada na pesquisa, responsável por atuar contra o câncer, também representa uma novidade para o mercado. “A formulação vai além do fármaco, porque ela é uma plataforma que pode ser utilizada com vários medicamentos. Nesse primeiro momento, testamos com a piplartina, substância encontrada nas pimentas e que é muito estudada como fármaco anticâncer”, Leticia afirma. 

Entre os principais benefícios da utilização da piplartina, ganham destaque sua facilidade de ser encontrada e cultivada, além do rendimento de algumas partes da planta, que pode chegar a 10%, um número grande para a produção. “Uma das coisas que levamos em conta ao trabalhar com produtos naturais, é que devemos ter cuidado em não causar impactos ambientais, porque, caso ocorra o contrário, não chegaremos em um fármaco economicamente viável. Com o exemplo da piplartina, não tenho dúvidas de que conseguiríamos obtê-la para fazer ensaios clínicos sem muitos problemas”, Lotufo complementa.

A técnica da pesquisa, isto é, o uso de uma plataforma com nanocarreador associado a um medicamento, é antiga, porém, utilizada com outro propósito: a retirada de líquido dos ductos mamários, voltada para o estudo de marcadores de cânceres. Grupos internacionais realizaram estudos com mulheres e mostraram que esta via de administração localizada é possível. Ainda, com anestesia local, a dor provocada pela injeção é baixa. 

As pesquisadoras já submeteram uma solicitação de patente para a plataforma. “É importante entender que o processo de desenvolvimento de um medicamento apresenta várias etapas. Por enquanto, fizemos os estudos pré-clínicos, in vitro. Contudo, é necessário fazer todos os ensaios clínicos antes de obtermos uma aprovação concreta do fármaco. É algo longo e trabalhoso”, Luciana reflete. 

“Em termos de resultados, conseguimos desenvolver uma formulação que, apesar de não ter sido testada por mais tempo, ficou retida no ducto mamário por cinco dias, o que daria um espaço de tempo de administração interessante. Sem contar os resultados positivos que obtivemos no estudo pré-clínico com os animais. Tivemos uma redução muito grande da incidência tumoral nos animais tratados”, Vanessa finaliza. 

O medicamento poderia ser aplicado em pacientes que tenham câncer do tipo carcinoma ductal in situ, com características de menor invasividade; que apresentam lesões pré-tumorais e em mulheres que já tiveram câncer de mama, mas que estejam em tratamento preventivo, de modo a impedir o desenvolvimento do tumor.

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