Por que o uso de animais em laboratório continua sendo importante nos dias de hoje

De acordo com professora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, os métodos alternativos vêm crescendo, porém não a ponto de substituir os testes em animais

Laboratório de biologia oral [Imagem: USP Imagens]

O bioterismo consiste no uso de animais de laboratório para realização de pesquisa científica. A ciência de animais de laboratório é uma prática recorrente e importante para as etapas de pesquisa, em especial na biomedicina.  

A professora Patricia Gama, diretora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e professora do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do mesmo instituto, explica que métodos alternativos vêm crescendo, porém ainda não substituem essas etapas. A docente atua na coordenação da Rede USP de Biotérios, que mantém biotérios de produção de ratos e camundongos; além da experimentação e manutenção das espécies. Ainda, outras instalações são utilizadas para animais de grande porte. 

Segundo Patrícia, na pesquisa básica, por exemplo, há experimentos que investigam mecanismos de ação de fármacos ou desenvolvimento de doenças, como tumores, e dependem do estudo em animais para que se compreenda as respostas em seres vivos.

“Um exemplo é o entendimento do crescimento de determinados tumores, para o qual é preciso avaliar como as células se comportam frente a um ambiente que contenha todos os elementos presentes no organismo”, afirma Patrícia. “Há variações durante o dia e a noite? Essa questão não pode ser simulada em uma placa de cultura”, explica a pesquisadora.

Já na pesquisa aplicada, a professora diz que os modelos animais funcionam na etapa denominada pré-clínica, “quando os medicamentos, por exemplo, são testados quanto aos seus efeitos antes dos testes em humanos”.

Para garantir a qualidade nas pesquisas, há cuidados que devem ser tomados e fatores a se levar em conta na manutenção dos biotérios. 

Em primeiro lugar está o respeito aos procedimentos que consideram o bem-estar animal. “Todos os protocolos de pesquisa, isso significa todos os experimentos, são avaliados antecipadamente pela Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua)”, diz a professora. As Ceuas estão ligadas ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). 

Entre os critérios de avaliação citados pela professora estão: planejamento experimental, número de animais, descrição adequada da população (idade, sexo, massa corpórea), condições de infraestrutura e sanitárias do biotério de produção e do biotério de experimentação e grau de invasão dos procedimentos experimentais.

Em relação ao fator sanitário, Patrícia explica que “o padrão livre de patógenos específicos (SPF) é recomendado, principalmente para as áreas de produção”, pois a medida garante que os animais fiquem livres de doenças. Outro fator importante apontado pela pesquisadora é a utilização de animais vindos da mesma procedência, de modo que os resultados possam sempre ser reproduzidos. 

Por último, o treinamento dos usuários e qualificação profissional influenciam a condição da pesquisa. No ICB, por exemplo, o curso de Capacitação no Uso e Manejo de Animais de Laboratório, oferecido desde 2018, na modalidade EaD, tem o objetivo de divulgar conceitos na área para capacitar profissionais. A iniciativa envolve docentes de diversas faculdades e tem como público-alvo profissionais atuantes ou que pretendam atuar no campo de produção e manejo de animais de laboratório, com nível médio ou graduação em área pertinente.

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