Mudança em lipídio é capaz de indicar avanço de doenças neurodegenerativas 

créditos: medimagem

Doenças neurodegenerativas ainda não tem uma cura definitiva, apesar de existirem tratamentos que buscam atenuar o avanço delas. Esse tipo de doença está ligado diretamente com o sistema nervoso central, e em certos casos, ao cérebro. No encéfalo, há uma abundância de lipídios e eles podem servir como biomarcadores ou até serem responsáveis por algum tipo de sintoma. 

Esses lipídios são componentes das membranas celulares e são suscetíveis a modificações em diversas situações: de estresse oxidativo, em que há a produção de radicais livres, envelhecimento e nas já citadas doenças neurodegenerativas. Buscando entender as consequências diretas dessas alterações, o laboratório dirigido por Sayuri Miyamoto no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) estuda mais a fundo esse assunto.

“O objetivo do laboratório é caracterizar os tipos de modificações que esses lipídios podem sofrer em situações de estresse oxidativo, e uma vez presentes e quantificados, entender se existe uma diferença nos níveis desses lipídios modificados e se estão associados com alguma doença especificamente” diz a pesquisadora. 

A relação do lipídio com as doenças

O laboratório realiza uma caracterização qualitativa e quantitativa dessas mudanças citadas. A partir delas, é possível estabelecer uma relação entre os lipídios e o avanço dos sintomas das doenças. Assim, essas moléculas orgânicas teriam ação de indicar a presença ou até em que patamar está o desenvolvimento da doença. 

A doutora explica que o oxigênio pode ser convertido em radicais livres, espécies reativas, e os lipídios das membranas humanas são suscetíveis a reagir com eles. Essas moléculas orgânicas têm certas características químicas por conta da presença de duplas ligações em sua estrutura (essa dupla é chamada de insaturação), e normalmente os radicais atacam moléculas que são ricas em elétrons. Os lipídios insaturados e os com várias duplas ligações, os polinsaturados, são ricos em elétrons, logo, são alvos de ataque de radicais livres. Essas espécies têm elétrons desemparelhados, e por consequência, são bastante reativos. Enfim, ao atacarem os lipídios, podem modificá-los quimicamente.

Como é feito os experimentos

A técnica usada até então pelo laboratório para identificar as alterações é a da lipidômica. “É uma técnica analítica, permite uma análise global de todos os lipídios presentes num sistema. No caso, o cérebro. Essa ferramenta é baseada numa técnica chamada espectrometria de massas”. A doutora ainda conta que com aquisição de um espectrômetro de massa de alta resolução em 2016, foi possível avançar mais ainda na pesquisa. 

 “Já em 2017 e 2018 começou-se a gerar resultados de análise de alteração de lipidoma no modelo da Esclerose Lateral Amiotrófica (doença neurodegenerativa). E esse ano foi divulgado o nosso trabalho no qual nós avaliamos esses marcadores lipídicos e de fato conseguimos visualizar alterações importante relacionadas com a progressão da doença” explica Sayuri.

Explicando mais a fundo 

A medida que essa doença, a ELA, progride, há alterações importantes nos níveis de colesteróis ligados a ácidos graxos, os ésteres de colesterol. Os níveis desse tipo de colesterol esterificado são usualmente baixos no cérebro e no sistema nervoso central. Quando os animais passam a apresentar os sintomas da doença, os níveis desse tipo de ésteres chegam a ficar seis vezes maior do que em um ser vivo saudável.

Isso tudo indica uma alteração importante que pode estar relacionado com a progressão da doença. Eventualmente, será possível usar esse conhecimento em estudos clínicos, no sentido de acompanhamento da evolução da doença. Mas, por ora, Sayuri diz “nós queremos explorar melhor ainda esses dados. Queremos entender melhor qual é o significado do aumento desse tipo de colesterol nos pacientes que estão adoecidos”. 

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