À época da elaboração da sua tese de Doutorado para o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), Pietro Rodrigues observava diferentes notícias e afirmações com relação ao retorno financeiro da política externa brasileira: “Haviam muitas notícias questionando o retorno tangível do Brasil possuir embaixadas na África, por exemplo. E pensei: alguém já mediu isso? Como podemos medir?”
A relação entre ciência política, economia e relações internacionais pode ser bastante qualitativa, comenta Pietro, isto é: a correlação desses fatores costuma englobar mais a parte teórica do que o retorno tangível e numérico de fato. Nesse sentido, Rodrigues almejava construir uma forma de tornar visível esse retorno e relacionar os aspectos econômicos da política externa com o desenvolvimento das empresas nacionais.
“O ponto que eu queria explicar, basicamente, eram os efeitos que ocorriam na internacionalização das empresas brasileiras quando o país altera sua política externa. O quanto efetivamente aquilo orienta os empreendimentos brasileiros, como a implicância das relações do país com outros é absorvida pelas empresas e como isso determina como vão alocar seus investimentos no mundo”.
Em um primeiro momento, a tese se preocupa em entender a relação entre setor privado e setor público, para posteriormente especificar em relação ao teor empresarial de fato. Pietro observa como o empresariado se associa ao desenvolvimento das relações internacionais do Brasil, como o país incorpora em sua estratégia de atuação, as empresas.
“Eu não queria utilizar casos anedóticos para medir os investimentos, me perguntava qual era o melhor indicador que afirma o nível de proximidade entre dois países. Tive a ideia de juntar diversos indicadores, fazer um levantamento de ações, programas e circunstâncias em política externa, e fazer um índice que mensure ano a ano a relação do Brasil com outros países”. Pietro ressalta as diferentes formas de se medir as relações do país e relacioná-la aos investimentos privados como um todo, entendendo que essa proximidade se constrói a partir de diversos fatores.
Foi assim que surgiu o Índice de Política Externa, medindo o nível de engajamento entre o governo brasileiro e 191 países entre 1998 e 2016. Isso indica a medida quanto que o país varia: “Por exemplo, se o Brasil muda o seu governo ou vota contra um país na ONU, como isso afeta as relações bilaterais como um todo. Há muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo que devem ser consideradas, e o Índice engloba isso”. Após a conclusão, Rodrigues implementou testes para verificar o índice.
Ao analisar a média de interações de países ao redor do mundo, cria-se um panorama do engajamento do Brasil. “Com o índice, foi possível testar diversas teorias de política externa. Por exemplo: o governo Lula teve superávit nas relações externas do Brasil. Ao pegarmos o índice, temos uma representação gráfica do pico das relações em 2010.”
Dessa maneira, era possível constatar certas proposições a respeito e comprovar, ou não, sua veracidade, de forma gráfica e ao longo dos anos. Especialmente para a área de política externa, como é um conjunto bastante grande de variáveis, classificadas entre domésticas e outras manifestações mais internacionais. “Conseguimos analisar país a país o que altera a política externa, se é uma variável doméstica ou internacional. Isso dá uma solução a um debate que está em aberto desde a década de 70, o que mudaria as relações internacionais do país, se seria algo interno ou externo. Com o índice, vemos em cada caso qual o tipo de variável predominante”.
Pietro também ressalta a importância de se visualizar o impacto da mudança de direção em relação ao setor privado, e o índice contribui para isso: “Política externa cria oportunidades de investimento, você tira uma barreira de legitimidade quando entram em outros países, em que é necessário conquistar o mercado local. A legitimidade dessa empresa pode melhorar ou piorar”.
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