Poluição atmosférica se intensifica dentro das salas de aula

Poluentes originários da combustão de matéria orgânica se acumulam dentro das escolas e podem ser prejudiciais à saúde em longo prazo

Segundo a OMS, a poluição atmosférica levou 7 milhões de pessoas a óbito em 2012. Foto: Flickr/Thomas Hobbs

O interior das escolas brasileiras é mais poluído que o ambiente externo. A conclusão é obtida no mestrado de Daniela Pereira, desenvolvido no Instituto de Química da USP, que analisou a composição do ar em três escolas do estado de São Paulo. A pesquisa verificou que a concentração dos poluentes não atinge níveis alarmantes, mas que se tornam prejudiciais à saúde quando respirados diariamente.

Na cidade, a maior parte dos poluentes é liberada por carros. A queima de combustíveis fósseis acontece de forma incompleta em veículos automotores. Desse modo, uma grande quantidade dos chamados HPAs, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, é lançada para a atmosfera. Estes compostos, semivoláteis e alguns estáveis quimicamente, persistem no ambiente e podem bioacumular em organismos vivos, sendo prejudiciais à saúde.

Os danos que esses poluentes podem causar à saúde foram explicados pela professora Pérola Vasconcellos, orientadora de Daniela no mestrado. “Com cada um é diferente, cada pessoa é diferente. A poluição pode atingir as pessoas de modo diferente, em uma pessoa pode ocasionar simplesmente uma alergia, uma tosse, em outra, pode causar coisas bem piores”, comenta. Algumas doenças que podem ser causadas pela poluição atmosférica são: irritação das mucosas e da garganta, bronquite, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e câncer de pulmão.

Essas doenças são desencadeadas por partículas minúsculas que entram nos pulmões e no sistema vascular pela inalação, causando obstrução das vias respiratórias e dos vasos sanguíneos, e podem chegar até mesmo na corrente sanguínea.

A pesquisa de Daniela procurou determinar a concentração dessas partículas, chamadas de MP10, e de espécies orgânicas e inorgânicas nos ambientes internos e externos de três escolas no estado de São Paulo. Na zona oeste da cidade, analisaram um colégio particular que sofre influência de uma avenida movimentada; também observaram a escola Madalena de Almeida do Cais, em Nova Granada, interior do estado; e por fim coletaram amostras dentro da USP, na Escola de Aplicação, influenciada pela vegetação local e por grande movimento de carros.

Interno x externo

Tanto na Escola de Aplicação quanto na escola de Nova Granada, a concentração de HPAs e de  MP10 foi encontrada em maior quantidade no ambiente interno. Nesses casos, os poluentes “entram quando as janelas estão abertas, e depois, no fim do dia, acumulam e não saem”, explica Pérola. Na escola particular, a influência de carros fez com que os resultados fossem mais expressivos no ambiente externo.

Quase nada se fala sobre poluição do ar interno — mesmo que as pessoas passem a maior parte do tempo dentro de ambientes fechados. Pérola explica que a chamada Síndrome do Edifício Doente é um estudo iniciado entre os anos 60 e 70 nos Estados Unidos, que determina a relação de causa e efeito das condições de um ambiente interno e a agressão à saúde dos ocupantes.

Um edifício é considerado doente quando 20% dos seus frequentadores apresentam problemas de saúde associados à permanência em seu interior. O contato pode exacerbar doenças preexistentes, como rinite e asma, e desencadear novos distúrbios causados pela exposição.

Fontes de emissão

As amostras obtidas nos ambientes internos e externos das escolas foram analisadas por cromatografia gasosa — método utilizado para separar, identificar e quantificar as substâncias. Após determinados quais eram os compostos químicos, foram investigadas as suas origens. “Esses compostos vieram de várias fontes, não só de queima de combustíveis. A gente identificou muito claramente a influência da queima de diesel e de biodiesel, também de queimadas de florestas e de cana de açúcar”, conta Pérola.

Riscos à saúde

Apesar de a concentração dos compostos de algumas amostras estarem acima do recomendado pela OMS, ela apresentou baixos riscos à saúde. Pérola, porém, ressalta que apesar de os números não serem tão alarmantes, as pessoas expostas constantemente a esse ar sofrem risco de contrair doenças. “Você está respirando anos, décadas aquilo lá. Isso é uma coisa para a gente pensar, porque as crianças estão ali”.

Daniela comenta que uma das razões para desenvolverem o estudo em escolas foi justamente por causa das crianças. “O sistema respiratório delas ainda está em desenvolvimento”, explica. Isso as torna mais vulneráveis, pois “respiram grandes quantidades de ar em relação ao peso corporal”.

Medidas para melhorar

Pérola acredita que, para melhorar a qualidade do ar, a primeira medida que deveria ser tomada é “diminuir o número de carros na rua”. Aumentar o número de transporte público em circulação e liberar as vias de carros diminuiria a emissão de poluentes, tornando o ar das cidades menos prejudicial.

Ainda, completa que melhorar o combustível é a segunda medida a ser tomada. “Nosso combustível não é o mais limpo”, diz. Nos últimos anos, a indústria automobilística buscou aprimorar sua matriz energética com os motores elétricos e híbridos, que diminuem as emissões de poluentes. Contudo, a tecnologia ainda se mantém restrita devido aos altos valores associados a estes veículos.

Além disso, acredita que a legislação brasileira deveria controlar o total de emissão de poluentes. Ela explica que a concentração de material particulado, aquele que entra dentro dos pulmões, nos países do exterior é de 25 microgramas/ de ar. “No Brasil essa concentração é 60 microgramas/. Nós respiramos muito mais poluição, e está tudo certo perante a legislação”. Ela completa dizendo que “se diminuísse isso, teríamos ganhos em vidas humanas”.

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