Grupos minoritários do Parlamento Europeu eram contrários ao Acordo de Associação entre União Europeia e Mercosul

Pesquisa do IRI aponta que partidos de direita e esquerda uniram argumentos para se colocar contra proposta de parceria

Acordo de Parceria entre o Mercosul e a União Europeia é um dos maiores acordos bilaterais de livre comércio do mundo (imagem: Ricardo Stuckert / PR - Fotos Públicas)

Em 6 de dezembro de 2024, o Mercosul e a União Europeia anunciaram a conclusão das negociações do Acordo de Parceria entre o Mercosul e a União Europeia. Os blocos econômicos entraram em consenso sobre as relações comerciais e políticas para os próximos anos. O acordo, porém, ainda precisa passar por revisão legal e aprovação no Parlamento Europeu.

A proposta estava em discussão desde 1999, teve uma espécie de pré-acordo e pausa durante o governo de Jair Bolsonaro e foi retomada em 2023 pelo presidente Lula. Uma dissertação de mestrado do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP apontou que, entre os entraves para o fechamento do acordo, estava a discordância de grupos minoritários europeus sobre o compromisso ambiental e a proteção do setor agrícola da Europa. Para eles, as consequências para a degradação do ambiente nos países do Mercosul e para o setor agrícola na Europa eram pontos cruciais que impediam o tratado.

Beatriz Cruz, autora da dissertação, explica que a formulação de um anexo complementar ao acordo que garantisse o comprometimento dos países do Mercosul com o desenvolvimento sustentável possibilitou a resolução. Ela aponta que analisou os debates e perguntas de senadores dos grupos de menor expressão da 9° legislatura do Parlamento Europeu para concluir que partidos de ideologias opostas utilizavam dos mesmos argumentos para se contrapor. “A maior surpresa da pesquisa foi ver que tanto grupos da extrema direita quanto da esquerda estavam falando que eram contra o acordo por dois motivos principais: a degradação do meio ambiente no Mercosul e a competição com o setor agrícola europeu”, conta.

O Parlamento Europeu é o órgão legislativo da União Europeia. Diretamente eleito pelos cidadãos da UE de cinco em cinco anos, ele é composto por, no máximo, 750 deputados agrupados por filiação política. Um balanço da 9° Legislatura do Parlamento, realizado pela Fundação Robert Schuman, observou que, em maio de 2024, o órgão se diluía em 7 grupos políticos: Partido Popular Europeu (PPE); Socialistas e Democratas (S&D); Renew Europe (RE); Verdes/Aliança Livre Europeia (Verdes/EFA); Conservadores e Reformistas Europeus (ECR); Identidade e Democracia (ID); Esquerda Unitária Europeia (GUE) e 50 membros não inscritos (NI).

A pesquisadora complementa que está trabalhando em um artigo que investiga as motivações dos grupos minoritários RE, Verde/EFA, ECR e ID. Para ela, o seu posicionamento contrário ao acordo pode indicar uma “reinvenção do colonialismo”, à medida que não se pode comprovar se há uma preocupação verdadeira com a sustentabilidade em países em desenvolvimento ou se este seria um tratamento destinado especificamente às nações do sul global.

Beatriz aponta que seu mestrado traz luz a um novo caminho de estudos: “Seria interessante pesquisar o que esses grupos falam em relação a outros acordos com países em desenvolvimento para ver se há um padrão e entender quais serão as próximas decisões do Parlamento”.

Soma das economias dos dois blocos econômicos alcança aproximadamente US$ 22 trilhões de dólares (imagem: Ricardo Stuckert / PR – Fotos Públicas)

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