
O Acordo de Paris prevê a redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030 para limitar o aumento da temperatura a 1,5 ℃. Diante da importância da redução dos efeitos da crise climática global, pesquisa realizada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente da USP (IEE) estuda a Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) em rochas basálticas.
A técnica é uma das formas de reduzir os efeitos das emissões (GEE) na atmosfera. “Além de caracterizar os lugares mais eficientes para armazenar o CO2, desenvolvemos tecnologias que permitam que essa operação, além de ser segura, seja econômica”, comenta Colombo Tassinari, professor do IEE e coordenador do projeto.
O processo envolve a captura, canalização e injeção de CO2 em reservatórios a profundidades superiores a 800 metros. Os gases são inseridos em camadas de rochas permeáveis sob outras menos permeáveis, definidas como selantes. “Se injetarmos CO2 nessas rochas, ele ficará preso lá por milhares de anos, pois as outras rochas impedirão que ele saia”, afirma Tassinari. A técnica já é aplicada na Islândia, com destaque para a empresa Carbfix.

Basalto e suas particularidades
O basalto é uma das rochas estudadas pelos pesquisadores. Gerado por atividade vulcânica, este tipo de rocha predomina na Islândia. Segundo Tassinari, o basalto se destaca por ser quimicamente muito reativo. Quando dissolvido em água, o CO2 se transforma em ácido carbônico (H2CO3) e, ao entrar em contato com a rocha, destrói sua estrutura cristalina, liberando cálcio, ferro e magnésio. Posteriormente, a reação do CO2 com esses elementos gera novos minerais, que o aprisionam.
Importância do projeto
A aplicação da técnica é essencial para o processo de transição energética. Para Tassinari, o aumento das fontes renováveis de energia não implicou na redução da demanda por petróleo e emissão de CO2 no planeta. A extração e transformação de matérias-primas para a construção de painéis solares e carros elétricos, por exemplo, demandam elevados níveis de energia, que vêm, sobretudo, de matrizes minerais. Assim, diante da impossibilidade de mitigar as emissões de GEE, a CCS se apresenta como uma alternativa.
Riscos e Desafios
O escape do CO2 pode contaminar fontes subterrâneas de água potável. Entretanto, o refinamento das tecnologias de instalação e monitoramento do processo dificultam a ocorrência de acidentes. Os poços de injeção são constituídos por sete camadas de aço e concreto, que impedem que o gás escape quando inserido nos reservatórios. Além disso, o constante monitoramento permite que escapes sejam identificados e solucionados rapidamente, evitando, também, a saída de CO2 através de falhas nas rochas.
A conscientização das comunidades sobre a segurança da prática também é uma preocupação dos pesquisadores. O grupo Percepção Pública de CCS, organizado pelo Research Centre for Greenhouse Gas Innovation RCGI, associado à USP, reúne pesquisadores com o intuito de tornar o tema acessível.
Os desafios de aplicação da técnica são, sobretudo, financeiros. Segundo a revista Istoé Dinheiro, dados da Comissão Europeia de 2019 apontam que capturar uma tonelada de carbono pode custar entre €80 e €200. Em 2024, as emissões globais de CO2 foram de 37,4 bilhões de toneladas, de acordo com a Global Carbon Project. Assim, em larga escala, a técnica demanda investimentos substanciais.
No Brasil, a precariedade do sistema de transportes encarece o processo. Tassinari explica que, embora o basalto seja encontrado em abundância no Brasil, a rede pequena de gasodutos e de estradas aumenta o custo do transporte do CO2 das indústrias aos poços de injeção.
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