
No clássico O Iluminado (1980), Stanley Kubrick subverte as convenções do horror dos anos 80. Para o doutorando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Eduardo Carniel, muitas obras da década demonstram um padrão: uma ameaça sobrenatural, que é derrotada por alguma autoridade institucional – como padres, policiais, ou cientistas. Entretanto, o filme de Kubrik rompe este modelo. Através da história de Jack Torrance, que enlouquece enquanto trabalha como zelador no isolado Overlook Hotel, o longa revela como a alienação no ambiente de trabalho pode criar monstros.
Sob esta mesma ótica, o Overlook Hotel, o qual aparenta ter uma presença sobrenatural que atrai e aprisiona a família Torrance, seria, na verdade, uma representação da lógica capitalista de trabalho. Essa visão de trabalho e poder leva à desestabilização de Jack, que, ao internalizar a ideologia dos patrões, começa a se tornar o “monstro” da trama. Carniel destaca uma cena fundamental para o entendimento desta crítica: Jack justifica suas ações agressivas, dizendo à esposa para pensar em suas responsabilidades com seu trabalho.
A pesquisa revela, então, que o clássico aponta como a alienação e violência no trabalho criam os verdadeiros “monstros”, e Jack torna-se a demonstração de um sistema que explora e desumaniza. A loucura de Jack representa, nesse sentido, não uma possessão sobrenatural, mas uma conformidade com a lógica econômica posta sob crítica.
Além disso, a tese também aponta o que chama de “Horror Burguês”, conceito evidente durante as Revoluções Industriais, e compara o filme à obra Frankenstein. “O trabalho, seja no hotel ou na máquina de escrever, não provê a Jack um desenvolvimento das suas capacidades, mas sim o caminho apontado pelo jovem Marx e que explica também a formação do monstro de Frankenstein: quanto mais moldado seu produto, mais impotente será o trabalhador; quanto mais inteligente for o trabalho, mais entorpecido será o trabalhador” finaliza Eduardo Carniel.
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