A possibilidade de usar o som como forma de análise e representação de dados científicos já vêm sendo utilizada por diversos grupos de pesquisa no mundo. Esse processo conhecido como sonificação oferece a oportunidade de não só representar dados científicos de forma alternativa a imagens, mas também oferece material para composição musical.
É o que ocorre no Instituto de Física (IF) da USP: um grupo de pesquisa, com apoio da Comissão de Cultura e Extensão do IF e da participação de estudantes de graduação, cria músicas com base em dados. “É uma tentativa de melhorar o diálogo entre ciência e arte”, explica o professor Caetano Miranda, pesquisador e coordenador do projeto. O processo mais recente foi feito a partir da transição da sílica para a coesita.
A sílica está presente em diferentes materiais do dia-a-dia, desde o vidro às peças eletroeletrônicas que compõem o celular. A grande dúvida de pesquisadores se referia como ocorria sua transição para coesita, quando aplicada altas pressões.
A relevância, segundo o professor, está na importância da coesita para fenômenos da geologia: ela enfrenta uma pressão atmosférica 10 mil vezes acima da normal. Assim, quando uma amostra de coesita surge na superfície serve como indicativo de áreas que sofreram explosões atômicas ou que tiveram impacto de asteroides ou meteoritos – reforçando algumas hipóteses sobre a extinção de dinossauros. “Toda vez que se tem a coesita já é uma informação importante, porque ela diz de onde veio ou o que aconteceu com aquela amostra do ponto de vista de altas pressões”, afirma Miranda.
De acordo com o físico, quando se realiza experimentos aplicando-se pressões ainda maiores à coesita, chega-se a diferentes arranjos atômicos da sílica, seja em estruturas cristalinas mais densas ou completamente amorfas. Os mecanismos das transformações moleculares dessas estruturas foram relevados pelo trabalho de uma parceria entre pesquisadores do Brasil e da China e foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences the United States of America (PNAS).
Os resultados foram obtidos através de simulações moleculares feitas em programas computacionais, em que é possível definir a pressão aplicada na amostra. Com os resultados, explica o físico, será possível melhorar as propriedades das moléculas. “Por exemplo, a sílica compõe o vidro, os resultados permitem criar vidros mais densos”.
Antes da formação em física, o professor Caetano Miranda já havia passado por um conservatório de música. Assim, decidiu unir as duas atividades em um projeto de extensão chamado “Um barulho bom”.
Conta com um laboratório de sonificação, que busca transformar em sons desde partículas elementares, física atômica e molecular até a cosmologia em duas etapas: a primeira é a coleta dos dados e depois o processamento via sonificação. “Já que tínhamos esse material, resolvemos sonificar para ver como soaria a coesita em altas pressões. A gente brinca que seria o hard rock”, completa.
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