
A criptococose é uma doença ocasionada pelo fungo do gênero Cryptococcus e está classificada como uma micose sistêmica, que são infecções profundas ocasionadas por fungos patogênicos. Esses microrganismos conseguem colonizar a área que contaminam, como acontece com a candidíase, por exemplo.
A neurocriptococose ocorre quando o indivíduo inala os poros do fungo Cryptococcus, afetando o sistema nervoso e as meninges (membranas que revestem o cérebro). “O fungo pode entrar pela pele ou mais frequentemente pelo pulmão. Dessa porta de entrada, costuma disseminar-se por via hematogênica acometendo diversos órgãos e sistemas, incluindo o sistema nervoso”, diz José Antonio Livramento, pesquisador do Laboratório de Investigação em Neurologia, da Universidade de São Paulo (USP).
O especialista explica que esses fungos se fixam e proliferam em áreas perivasculares chamadas de Wirchow-Robin — espaços preenchidos por líquido cefalorraquidiano (LCR) que envolvem os vasos sanguíneos ao entrarem no cérebro, funcionando como uma extensão das meninges. No entanto, não ocorrem lesões diretamente destrutivas no tecido nervoso.
Segundo outro pesquisador do Laboratório de Investigação em Neurologia, Luís dos Ramos Machado, as doenças inflamatórias do sistema nervoso podem causar acometimentos encefálicos e impactar a massa branca ou cinzenta do cérebro. Essas áreas são responsáveis pela comunicação do sistema nervoso, composta por bilhões de axônios que conduzem sinais elétricos e pelas funções cognitivas, funções motoras, raciocínio, além de recepção, integração de informações e respostas, respectivamente. Além disso, podem causar comprometimento medular (lesão da medula cervical), dos nervos e raízes nervosas periféricas — região que faz parte do sistema nervoso periférico, que conecta o cérebro e a medula espinhal com o corpo.
Como consequência, a doença fúngica pode ocasionar problemas sérios de saúde. “A neurocriptococose causa uma meningite crônica com hipertensão intracraniana e espessamento das meninges da base do crânio. Na neurocriptococose, a hipertensão intracraniana frequentemente evolui para perda progressiva e irreversível da visão, se não for tratada precocemente e de modo eficaz”, explica Livramento.
A meningite crônica consiste na inflamação prolongada das meninges e na hipertensão intracraniana, ocorre um aumento de pressão no interior do cérebro. Isso pode causar muitas lesões neurológicas, como edema cerebral, hérnia cerebral, perda de visão, convulsões, alterações cognitivas e comportamentais.
Os principais sintomas da neurocriptococose são: fortes dores de cabeça, febre, rigidez na nuca, alterações mentais e visuais. A doença pode ser curada através de tratamentos medicamentosos antifúngicos e mediante a cirurgias, caso necessário.
Livramento alerta que “ao se observarem os primeiros sinais de acometimento visual, alguns procedimentos devem ser feitos. O tratamento rápido e precoce da hipertensão intracraniana é de extrema importância para prevenir a ocorrência de perda de visão, que é uma ocorrência frequente e irreversível da neurocriptococose”.
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