Cientistas desenvolvem método inédito para identificar nanoplásticos em células

Técnica de espectroscopia Raman já é utilizada em estudos de microplásticos, mas ainda precisa ser otimizada para partículas menores

Esse método não é destrutivo para nanoplásticos e abre portas para pesquisas sobre poluição em nível celular. [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ) e da Université de Fribourg, na Suíça, estão desenvolvendo uma técnica que utiliza nanopartículas de ouro para detectar a presença de nanoplásticos em nível celular. Essa abordagem promete tornar mais acessível a pesquisa sobre a contaminação.

Os nanoplásticos representam um grave risco ambiental, uma vez que conseguem ultrapassar barreiras celulares e impactar organismos unicelulares e multicelulares. Bárbara Rani Borges, pós-doutoranda no IQ, participa da pesquisa que busca facilitar a identificação desses compostos nas células.

Poluição em nível celular

O risco do plástico é intensificado conforme seu tamanho é reduzido. “Quanto menor ele for, mais organismos conseguem ingeri-lo”, afirma a pós-doutoranda. “Um plástico maior só vai ser consumido por um animal maior, mas um nanoplástico estará disponível para todos os organismos que estão no ambiente. Para os grandes, para os médios e para os pequenos. Inclusive para os unicelulares.”

“Aqui a gente começa a falar de microalgas, de bactérias, de células do nosso corpo”, continua. Os nanoplásticos conseguem romper as barreiras celulares e, por isso, seu potencial poluidor é muito maior. “Já existem alguns estudos que indicam que os nanoplásticos podem causar estresse celular e um mau funcionamento do sistema biológico.”

Técnicas espectroscópicas

O método escolhido pelos pesquisadores para o estudo dos nanoplásticos foi a Espectroscopia Raman Amplificada por Superfície (SERS, da sigla em inglês). Nela, a amostra é irradiada por um laser, gerando um espectro que revela a presença e a composição do plástico na célula. Um dos diferenciais desse método é que ele é não destrutivo, ou seja, o nanoplástico não é alterado ou perdido durante o processo, permitindo seu uso em outros estudos.

“Além disso, ela é uma técnica barata”, diz Bárbara. “Embora seja necessário contar com mão de obra especializada para operar o equipamento, assim que o espectrômetro Raman é adquirido, os custos com insumos são mínimos. Não é necessário o uso de reagentes ou consumíveis químicos para cada análise, o que reduz os gastos operacionais.”

A espectroscopia já é usada em estudos de plástico há muito tempo, mas ainda precisa ser otimizada para nanoplásticos. Por isso, os pesquisadores sugerem colocar as amostras de plástico em contato com nanopartículas de ouro. “A proximidade dessas nanopartículas faz com que o sinal seja aumentado”, explica a pesquisadora. “E com isso é possível fazer a identificação da presença e do tipo de plástico na célula.”

Nanopartículas de prata e de cobre apresentam efeitos similares. “Elas formam o que chamamos de ‘hotspot’. São locais onde as partículas estão se tocando ou estão muito próximas, e é ali que haverá a amplificação do sinal”, comenta. “A explicação é química e tem relação com a vibração dos elétrons na camada superior do metal.”

Esquema explicativo da influência das nanopartículas de ouro na identificação do plástico. Foto: Acervo Pessoal/Bárbara Rani Borges

Mas por que é preciso identificar o tipo de plástico que está presente na célula? “Cada tipo de plástico pode provocar respostas tóxicas diferentes, e é importante compreender seus efeitos dentro das células para que, em um futuro próximo, possamos entender melhor as consequências para a saúde humana”, responde a pesquisadora. “Além disso, os resultados dessas pesquisas científicas podem e devem ser utilizados para apoiar a criação de legislações que reduzam a produção e, consequentemente, a presença dos plásticos mais tóxicos no meio ambiente.”

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