Educação financeira pode auxiliar no ensino da matemática, desde que realizada por educadores preparados

Pesquisadora da USP explica processo de aprendizagem da temática e necessidade de estudo aprofundado dos docentes

Porquinho ao lado de copo com moedas escrito "Educação". Atrás, uma lousa com cálculos
Ensino financeiro deve ser feito desde muito cedo. Reprodução / Freepik

Em março de 2024, foi oficialmente incorporado ao currículo educacional paulista a aplicação de aulas de educação financeira para as três séries do Ensino Médio e dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. A medida veio como resposta aos anos de cobrança para que as escolas ensinassem temáticas mais atuais e conversassem melhor com o dia a dia das crianças e dos jovens. Apesar da oficialização, o tema já vinha sendo trabalhado na forma de disciplinas optativas em diversas escolas da rede municipal e estadual após a implementação do Novo Ensino Médio (NEM).

Para Débora Amaral, mestra em matemática pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) e autora da dissertação Educação Financeira através da Resolução de Problemas, a educação financeira é um tema multidisciplinar e exige professores familiarizados com ele. Ela explica que muitas vezes a educação financeira é entendida de maneira genérica, o que leva a crer que ela se trata somente do ensino de como economizar ou investir seu dinheiro, do que a pesquisadora discorda: “O ensino dela por meio da matemática crítica tem outra ideia. Precisamos trabalhar um currículo dentro da educação básica com uma adaptação para esse tema, voltada para as crianças e para os jovens”.

A pesquisadora, que trabalhou com os sextos anos de uma escola da rede municipal de Santos, área litorânea de São Paulo, destaca que o intuito do ensino financeiro não é só relacionado ao tratamento da moeda física, mas nos impactos e no uso dela na sociedade. “O foco é que eles entendam o que é o mundo, como surgiu o dinheiro e como funciona o sistema econômico em que estamos inseridos”, explica.

Atividade realizada por estudante durante uma aula da professora Débora [Imagem: Acervo pessoal/Débora Amaral]

Em uma abordagem pouco didática essa intenção tende a se perder, o que é ruim para os estudantes. “O Governo do Estado de São Paulo criou para o NEM as novas disciplinas para atender suas demandas, mas decidiram por conta própria qual relação de professores que as aplicaria e não criaram um currículo concreto”, afirma a mestra. Débora detalha que a educação financeira, assim como outras disciplinas novas, pode ser dada por um professor de matemática, geografia e até história, mas exige dele uma formação diferenciada. “Não dá para esperar que um professor que sempre trabalhou a disciplina na forma da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de repente saiba trabalhar essa interseccionalidade. É extremamente prejudicial para a educação colocar professores para trabalhar em algo incomum da formação sem um preparo anterior, tem que haver pesquisa”, destaca.

Resolução de problemas e educação financeira

A abordagem da resolução de problemas unida ao ensino financeiro foi uma opção para contemplar a disciplina com maior clareza. A pesquisa de Débora foi feita com estudantes do sexto ano justamente pela autora acreditar que o ensino deve ser feito desde muito cedo. “O ideal é o quanto antes. Quando a criança começa a ter noção de números, é bom aplicar o ensino financeiro”. Entre as temáticas trabalhadas pelos alunos, estavam o conceito de escambo e orçamentos familiares e públicos, todos aplicados ao método de resolução de problemas, já previsto na BNCC. 

Ao unir a resolução de problemas e a educação financeira, Débora pôde proporcionar aos estudantes uma noção mais completa do ensino, que não possibilita somente a resolução de problemas cotidianos, e sim a aplicação para qualquer tipo de diversidade que pode vir a surgir. Os estudantes, segundo a professora, foram receptivos quanto à matéria, e os pais também se empolgaram, pedindo que os filhos compartilhassem os aprendizados em casa.

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