A caquexia é uma condição em que um indivíduo, diagnosticado com um tumor avançado, perde massa muscular, gordura, apetite e independência. Por muito tempo, a caquexia foi vista como um efeito colateral de tratamentos quimioterápicos de câncer. Isso porque, em alguns casos, a quimioterapia é tão agressiva que causa a perda de apetite no paciente e, consequentemente, sua perda de peso.
Atualmente já existe o consenso de que “a caquexia tem suas características patológicas de inflamação como sendo um distúrbio metabólico.” É o que explica a pesquisadora Claudiana Lameu, docente do Instituto de Química (IQ) da USP e líder do Laboratório de estudos dos mecanismos moleculares de metástase (LEM3).
A descoberta
Por ter seus estudos focados no processo de metástase do câncer, Claudiana conta que não tinha nenhuma pretensão de estudar a caquexia, mas teve o rumo de sua pesquisa alterado quando analisou alguns resultados promissores. “Nossa ideia era estudar enzimas nos processos metastáticos, mas vimos os resultados clínicos da utilização de um peptídeo e começamos a investigar molecularmente seus efeitos”, comenta.
Peptídeos são moléculas formadas pela ligação de aminoácidos. No caso estudado pelo LEM3, o peptídeo foi extraído do veneno de serpentes e, a princípio, foi utilizado como agente farmacológico para tratar condições tumorais em roedores. Diferente do esperado, o tratamento não diminuiu o desenvolvimento do câncer. Por outro lado, os cientistas notaram que, apesar de não atingir os objetivos iniciais, a molécula mudou as condições físicas dos portadores testados.
“Os animais que não tiveram contato com o peptídeo, desenvolveram o tumor e a caquexia, ou seja, perderam peso e ficaram extremamente debilitados. Já os animais que tiveram contato com o peptídeo, desenvolveram o tumor, mas ficaram totalmente saudáveis”, explica Claudiana.
Durante o processo, os roedores não foram submetidos à quimioterapia, por isso, não se pode dizer que o tratamento quimioterápico teve alguma influência nos resultados, “pode se dizer que o peptídeo bloqueou a caquexia e deixou os animais testados com peso semelhante ao de animais saudáveis”.
“Em um dos casos, uma única dose do peptídeo até diminuiu o tamanho do tumor”, conta Claudiana que, mesmo otimista com os resultados positivos, alerta para o risco de considerar esse como sendo um tratamento seguro para o câncer. “Isso é um ponto cuidadoso para mim como cientista. Ainda é preciso descobrir se esse tratamento pode trazer consequências e efeitos adversos em tratamentos prolongados”.
Próximos passos
A pesquisadora conta que iniciou uma parceria entre o laboratório e uma empresa de biotecnologia, além de estar no processo inicial de conversas com a Indústria farmacêutica e investidores para patentear o peptídeo, garantindo a continuidade do projeto .
Claudiana explica que, por ser uma molécula natural, modificações estão sendo feitas para o patenteamento. “Uma molécula natural pode ser patenteada desde que sintetizada no laboratório. No entanto, para obter o investimento da indústria, é muito mais interessante ter uma molécula sintética, de fácil produção e de baixo custo”, explica.
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