Estudo de aglomerados analisa formação e evolução de estrelas e planetas na Via Láctea

Técnicas de astrometria e captações em infravermelho auxiliam na investigação dos primeiros estágios de populações estelares jovens

Aglomerado aberto das Plêiades
Um importante exemplo de aglomerado aberto são as Plêiades, sistema dominado por estrelas azuis quentes que já era conhecido por diferentes culturas e civilizações antigas. [Imagem: NASA, ESA, AURA/Caltech, Palomar Observatory/ Wikimedia Commons]

Formadas a partir do acúmulo de gás e poeira, as estrelas são corpos celestes de grande importância para a compreensão do Universo. Elas possuem etapas evolutivas próprias, que se iniciam a partir das nebulosas, imensas nuvens cósmicas descritas como “berçários estelares”.

Com o propósito de entender melhor os estágios iniciais de aglomerados de estrelas, diversos projetos estão sendo desenvolvidos no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). “Fizemos um pedido de tempo no telescópio SOAR para a observação desses objetos e, assim, procuramos características tanto das estrelas quanto do gás em volta delas, que também está associado aos processos de formação”, afirma Jane Gregorio-Hetem, professora associada do instituto e coordenadora de pesquisas no assunto.

O atual projeto de pesquisa de Jane, intitulado Primeiros estágios da evolução de aglomerados estelares jovens, propõe não apenas caracterizar essas populações estelares mais dispersas – denominadas aglomerados abertos –, mas, também, investigar, dentro desses grupos, a evolução de discos protoplanetários. Esses últimos constituem-se de anéis de matéria orbitantes de estrelas jovens onde futuros planetas se desenvolverão.

Estrela PDS 70 e seu exoplaneta PDS 70c
Foto astronômica da estrela PDS 70 e seu disco protoplanetário. Em ampliação, pode-se observar o exoplaneta PDS 70c. [Imagem: Reprodução/ ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/Benisty et al.]
A análise dos aglomerados estelares se baseia em dados obtidos por captações em infravermelho, espectro de luz invisível ao olho humano, mas capaz de detectar condensações de gás e poeira típicas de nuvens moleculares com intensa formação estelar. “As próprias estrelas têm emissão nessas ondas, então também podemos usar isso para tirar informações sobre o que está acontecendo nelas, não apenas ao redor”, complementa a pesquisadora.

Além disso, os recentes dados disponibilizados pelo satélite Gaia tornam o estudo mais completo. Segundo Jane, há um moderno catálogo de informações a respeito da posição e do movimento das estrelas, elementos importantes para compreender seus estados evolutivos e poder caracterizá-los. “Combinados às nossas observações, esses dados nos permitem saber se uma estrela é membro de certo grupo ou não”.

Passado e futuro galáctico

Apesar dos desafios relacionados ao processamento e à categorização de grandes volumes de dados, é esperado que a pesquisa contribua para a ampla construção de conhecimento sobre a formação e a evolução da Via Láctea. “Estou estudando alguns aglomerados, mas o ideal seria estudar toda a galáxia para entender o processo de formação de estrelas nas mais diferentes condições”, declara a pesquisadora. Ela dá o exemplo da região da constelação Canis Major (Cão Maior), que possui um curioso histórico de formação estelar pelo fato desta ter sido favorecida por explosões de supernovas, fenômenos considerados devastadores.

“Se [a explosão] acontecer muito próxima à nuvem, ela irá destruir tudo e não haverá como formar estrelas. Mas se ocorrer numa região um pouco mais distante, ela mandará uma onda de choque não tão intensa que, ao interagir com a nuvem, causará alterações físicas que podem desencadear processos de formação estelar”, explica a professora.

Nebulosa da Gaivota gerada por explosões de supernovas
A nebulosa da Gaivota, localizada próxima à região de Canis Major, é um exemplo de aglomerado aberto com origens em explosões de estrelas supernovas. [Imagem: Dylan O’Donnell/ deography.com]
Existe também a expectativa de obter maiores informações quanto à formação do próprio Sistema Solar por meio do estudo das T Tauri, um tipo de estrela jovem com baixa massa. “No passado, o Sol foi uma T Tauri. Então, o interesse em estudar essas estrelas também é entender as nossas origens, como que o nosso sistema planetário se formou e evoluiu”, diz Jane.

O envolvimento de vários alunos do IAG que contribuem com pesquisas sobre aglomerados estelares jovens deixa a professora confiante de que mais descobertas serão feitas. “Queremos entender o nosso passado, mas também queremos vislumbrar, no futuro, o conhecimento de outros mundos como o nosso”.

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