A Astropolítica é um campo das relações internacionais da ciência política que estuda as relações entre os países acerca do espaço sideral, abordando questões de exploração, defesa e estratégia geopolítica. Dentro desse campo, o analista de defesa e gestão estratégica internacional e atual doutorando do Instituto de Relações Internacionais da USP, Leandro Laranjeiras, escreve sua dissertação de mestrado intitulada Moscou, Washington, Nova Delhi e os legados da colonialidade na Astropolítica: uma análise da geopolítica do espaço sideral a partir da segunda metade do século XX.
O estudo objetiva, a partir de uma perspectiva crítica e das noções de colonialidade, entender as relações ocidentais de poder presentes no entendimento do espaço exterior. Para isso foram analisadas narrativas de três das cinco maiores potências espaciais atuais, Estados Unidos, Índia e Rússia; tratados internacionais do Direito Espacial da Organização das Nações Unidas (ONU); legislações internas dos países em questão; teorias claśsicas e críticas; materiais jornalísticos; a narrativa presente na obra A Queda do Céu de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A dissertação em breve estará disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.
Os discursos hegemônicos
O autor faz uma comparação entre os discursos em relação ao espaço dos Estados Unidos, Índia e Rússia. Ele comenta que foi pego de surpresa ao perceber uma similaridade entre os discursos dos países orientais e ocidentais. O primeiro discurso analisado por Leandro foi do norte-americano John Frederick Kennedy no século 20. “Era claramente muito colonial, mas quando analisei as declarações da Índia e da Rússia percebi noções muito semelhantes às dos EUA, o que me deixou muito chocado”, completa o pesquisador, afirmando que essa surpresa veio principalmente da Índia, pelo fato de ser um país que faz parte do Sul Global.
“A análise dos discursos concluiu o objetivo proposto, revelando uma tendência de replicação de um modelo civilizacional ocidental no espaço”, afirma o autor na conclusão do artigo. Juntamente com a observação de cinco tratados da ONU que regem as leis do espaço, ele conta que o que o mais intrigou na pesquisa foram os ideais de propriedade, herança e patrimônio. “Essa ideia de que o espaço é um patrimônio da humanidade é o que autoriza a colonização deste por meio de satélites e extração de recursos minerais, por exemplo”.
A Astropolítica Decolonial
O autor chama de Astropolítica Decolonial “um projeto coletivo que utiliza da colonialidade do ser, do saber e do poder para reconhecer e multiplicar as inúmeras múltiplas formas de vida por meio da coexistência em heterogeneidade”. A partir desse conceito, Leandro traz a narrativa A Queda do Céu e reflexões sobre as relações entre o Quilombo Mamuna e o Centro de Lançamento de Alcântara como contrapontos à visão colonial e ocidental do espaço.
“ A Queda do Céu é uma narrativa do povo Yanomami que entende que o espaço é habitado por vários seres que estão diretamente conectados com a Terra, não havendo uma distinção do que é a Terra e o que é o espaço”, afirma o autor. Ele justifica o uso dessas reflexões como uma forma de entender outras formas de relação com o espaço sideral que vão além de narrativas hegemônicas.
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