O sequenciamento do genoma de seres vivos foi uma das grandes descobertas da história da ciência. Entretanto, era difícil analisar amostras biológicas já degradadas pelo tempo e, mesmo após os progressos nessa área, os cientistas brasileiros ficam de fora, pois dependem de colaborações internacionais e empresas privadas para pesquisas com material antigo. Com inauguração prevista para o segundo semestre de 2024, o Centro de Museômica do Museu de Zoologia da USP (CMMZ) poderá resolver parte desse problema ao permitir pesquisas com o sequenciamento de nova geração.
O projeto está sendo financiado pela FAPESP e é coordenado pelos professores Luis Fábio Silveira, Gabriela Camacho e Joyce Prado, com apoio técnico de Jaqueline Battilana e Marlise Montes.
O que muda
Com os avanços dos estudos de genética evolutiva, hoje é possível analisar amostras de seres vivos que pertencem a coleções biológicas há anos ou até mesmo décadas. As análises moleculares são realizadas a partir do sequenciamento do DNA histórico, que é recuperado de ossos, peles, músculos, dentes, pelos, penas, e do exoesqueleto de invertebrados.
Essa inovação tem o potencial de expandir o valor das coleções biológicas, além de promover descobertas dentro do campo da biodiversidade. “Alguns pesquisadores notam que certas espécies são importantíssimas para tentar resolver questões evolutivas ou de nomenclatura”, explica a pesquisadora Jaqueline Battilana em entrevista para a Agência Universitária de Notícias (AUN). Ela relata que pesquisas com material biológico antigo podem resultar em revisão de taxonomias, solução de problemas de classificação, além da descoberta de novos grupos e espécies. No Centro, serão desenvolvidas pesquisas de base, ou seja, a partir delas, muitas descobertas científicas podem ser feitas: “Os benefícios são inúmeros”, garante Jaqueline.
Preparação
Atualmente, o Museu aguarda a finalização de pequenas reformas e a chegada de equipamentos para a abertura do Centro de Museômica. Jaqueline conta que há muitos cuidados na implementação e uso do novo laboratório, com o intuito de evitar a contaminação de materiais biológicos. “Vamos colocar sistemas de esterilização e as pessoas têm que receber um treinamento para entrar, além de utilizar uma vestimenta específica lá dentro. Existem amostras que não saem de lá e, quando saem, não podem voltar.”
Apesar das precauções necessárias, qualquer pesquisador poderá ser treinado para utilizar o laboratório. Para isso, basta entrar em contato com o Museu de Zoologia.
Projetos em andamento
Os professores do MZUSP já trabalham com pesquisas genômicas em colaboração com centros de pesquisas internacionais e empresas privadas especializadas em sequenciamento de DNA. No novo laboratório, a produção desses dados poderá ser centralizada, o que potencializa ainda mais os avanços científicos na instituição.
Um dos projetos que terá continuidade no Centro é o Amostra velha é que conta história boa: a história evolutiva dos mamíferos da Diagonal de Vegetações Abertas da América do Sul contada pelas coleções biológicas, que visa entender como fatores ambientais moldam a biodiversidade de pequenos mamíferos na Caatinga, Cerrado e Chaco para apoiar a conservação e a descrição de novas espécies. Além destas, várias pesquisas
serão agregadas ao Centro.
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