Estudo quer encontrar novas técnicas para tratamento odontológico em pessoas autistas

Pesquisa em andamento na USP busca saber se primeiro atendimento on-line pode aumentar colaboração de pacientes na consulta presencial

Universidade tem experiência de mais de três décadas no atendimento a pacientes portadores de deficiência. [Imagem: YouTube/FOUSP/Reprodução]

Uma pesquisa quer descobrir se consultas prévias pela internet podem aumentar a adesão de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao tratamento dentário. O projeto é desenvolvido na pós-graduação da Faculdade de Odontologia da USP (FO) e foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da instituição nas últimas semanas.

Durante o estudo, 60 pacientes com TEA acolhidos no Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) vão ser divididos em dois grupos. Metade passará por triagens e consultas remotas antes dos exames presenciais, enquanto a outra metade será atendida pessoalmente direto. Os métodos serão comparados para descobrir qual foi mais eficiente entre os voluntários, que possuem até 17 anos e 11 meses de idade.

De acordo com Marina Gallottini, coordenadora do Cape e orientadora da pesquisa, uma das motivações do estudo é o medo que muitos dentistas têm de examinar pessoas com TEA. “Existe um receio de vocação, de querer atender apenas o paciente colaborativo, e um receio de ‘não saber como fazer’, porque o atendimento especial é uma especificidade”, explica.

“O que nós tentamos [primeiro] é condicionar, ou seja, fazer com que o paciente se acostume [ao tratamento] e passe a colaborar”

Marina Gallottini, coordenadora do Cape

Na área da Odontologia, a palavra ‘colaborativo’ é usada para definir quem não resiste às ações do profissional durante a consulta, algo comum às pessoas com deficiência intelectual. Nesses casos, a orientadora cita que algumas medidas adotadas são a contenção física — praticada no Cape apenas em casos de extrema urgência, segundo ela — e a sedação com óxido nitroso (gás hilariante). A pesquisa busca avaliar se uma conversa anterior com o paciente com TEA pode evitar esse tipo de procedimento.

Segundo Marina, a teleodontologia é apenas uma das áreas que devem ser estudadas mais a fundo no Cape este ano. Também estão em desenvolvimento trabalhos relacionados à avaliação dos microbiomas (composição de bactérias) e citocinas (proteínas) bucais em pacientes autistas. “Acho que vamos ter resultados bem interessantes, talvez até propor estratégias de tratamento no futuro”, comenta a orientadora.

Trabalhos no Cape

As pesquisas são apresentadas no ano em que o Centro de Atendimento a Pacientes Especiais completa 35 anos. Fundada em julho de 1989, a instituição busca dar suporte capacitado a pacientes com deficiência, além de estar presente na graduação e nos cursos de especialização da Faculdade de Odontologia. Cerca de mil atendimentos são realizados todos os meses por mais de 70 dentistas formados e graduandos, segundo dados internos.

Marina Gallottini ressalta a importância do Cape e de disciplinas especializadas no atendimento especial na formação de dentistas pela FO. “O paciente [especial] tem dificuldade de encontrar profissionais, seja na rede pública ou privada, que estejam preparados e seguros para conduzir um tratamento odontológico.”

Pacientes do Cape são atendidos pelos alunos de graduação e pós-graduação da FO. [Imagem: YouTube/FOUSP/Reprodução]
Sobre Nícolas Dalmolim 4 Artigos
Estudante de Jornalismo na ECA-USP. Diretor de política, economia e sociedade na Jornalismo Júnior. Repórter da AUN no primeiro semestre de 2024.

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