Como a covid-19 afetou a saúde bucal dos brasileiros?

Sala de dentista vazia [Unsplash]

Como a pandemia do novo coronavírus pode afetar a saúde bucal dos brasileiros? A necessidade de ficar em casa pode trazer prejuízos nesse sentido? A Profa. Dra. Simone Rennó Junqueira, do Departamento de Odontologia Social da FO, comenta das possíveis consequências da covid-19 na área.

Junqueira ressalta que a visita regular ao cirurgião-dentista é importante, mas, com o enfrentamento de um vírus transmitido pelos fluidos bucais, “o atendimento odontológico passou a ser de alto risco de contaminação para os profissionais da equipe de saúde bucal e pacientes”.

Esses fatores, inclusive, motivaram o Conselho Federal de Odontologia, em março, a recomendar apenas a manutenção dos atendimentos de urgências no país, devendo adiar tratamentos eletivos.

Para o momento atual, Junqueira diz acreditar que, mesmo com os cuidados contra a covid-19, a higiene diária, particularmente a escovação dental, não foi muito afetada. Ao contrário, “ir ao banheiro com frequência para lavar as mãos pode nos fazer lembrar de estender outros hábitos de higiene”.

Em tempos anteriores, de normalidade, a professora ressalta que os hábitos de saúde bucal dos brasileiros eram positivos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, em um ano, cerca de 45% da população brasileira consulta um dentista, o que, para Simone, “é um número expressivo de pessoas, o que pode nos indicar o cuidado que a população tem”.

Ela ainda afirma que pensando na satisfação das pessoas em relação a sua saúde bucal, quase 70% das pessoas maiores de 18 anos a avaliam como boa ou muito boa. Quanto aos hábitos de higiene bucal, ela conta que praticamente 90% das pessoas maiores de 18 anos dizem escovar os dentes ao menos 2x/semana.

Escovando os dentes, os brasileiros já se previnem contra cáries e doenças na gengiva, “nossos maiores problemas de saúde bucal”. Além disso, a higiene da boca torna-se ainda mais importante com a circulação de um vírus respiratório transmitido pela saliva.

Outro fator para controle de cáries, mesmo que as pessoas descuidem um pouco da escovação ou deixem de consultar o cirurgião-dentista, é a água com flúor, que segue sendo distribuída para a população apesar da pandemia, relata a professora.

Atendimento na pandemia e balanço do momento

Ao descrever como o brasileiro costuma ir ao dentista, e como o hábito foi afetado pela pandemia, a professora conta que 75% da população brasileira recorre aos serviços odontológicos no setor privado. Com a crise econômica, os atendimentos têm voltado aos poucos, especialmente em consultórios de profissionais autônomos, com intervalos maiores entre as consultas e reforço nos cuidados relativos à biossegurança, como a AUN já descreveu anteriormente. Ainda assim, “a população está receosa para esse retorno”.

No entanto, especialmente em um momento em que a população teve seus rendimentos afetados, é importante a manutenção de tratamentos emergenciais no SUS (Sistema Único de Saúde), opina Junqueira. A professora ainda relembra que o acesso universal a ações e serviços públicos de saúde bucal é garantido pela Constituição Federal de 1988.

Com a pandemia exigindo uma força-tarefa específica do sistema público de saúde, a professora conta que os cirurgiões-dentistas foram deslocados para outras atividades prioritárias, além dos atendimentos de urgência, atuando principalmente com a equipe de enfermagem na recepção, orientações e encaminhamentos dos pacientes suspeitos de covid-19 e no telemonitoramento deles, “assumindo, portanto, seu compromisso de profissional da saúde”.

Por fim, atividades coletivas de promoção da saúde, “importante para as ações de saúde bucal em grupos prioritários – como crianças”, foram suspensas tanto em escolas, que estão fechadas, quanto nas unidades de saúde ou outros espaços da comunidade, para evitar aglomerações de pessoas.

Junqueira pondera que, mesmo com as projeções, as consequências da falta de visitas regulares ao dentista e da suspensão das ações coletivas só poderão ser calculadas com levantamentos epidemiológicos, variando bastante com o tempo em que a situação vai permanecer assim. Ela ressalta que “infelizmente, a realização do inquérito SB Brasil 2020 (saúde bucal da população brasileira) foi adiada”.

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