De acordo com dados do Ministério da Saúde, estimam-se que cerca de 17 mil novos casos de câncer de colo de útero sejam registrados em 2023. Causado por infecções prolongadas de alguns tipos de Papilomavírus, o câncer de colo de útero ou câncer cervical, é a terceira neoplasia mais incidente entre as mulheres e que, devido aos tratamentos oncológicos, ocasiona insuficiência hormonal prematura em diversas pacientes, além de inviabilizar gestações
Embora a diminuição da produção hormonal já seja esperada com a menopausa (ocorrendo naturalmente por volta dos 50 anos de idade), pacientes jovens diagnosticadas com câncer cervical têm a indução de uma menopausa não natural devido ao tratamento radioterápico.
Com a ausência de hormônios como progesterona e estrogênios, a paciente fica mais vulnerável a doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e osteoporose, impactando fortemente a sua qualidade de vida.
Desse modo, pensando em formas viáveis para solucionar este problema, um grupo de pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) está desenvolvendo um estudo a partir de um grupo de pacientes jovens diagnosticadas com câncer de colo uterino, que necessitem de tratamento com radioterapia pélvica a fim de minimizar os efeitos do tratamento oncológico.
Transplante de tecido fresco de ovário: Um caso bem-sucedido
A pesquisa é um ensaio clínico randomizado fase I/II, na qual um grupo de pacientes é submetido ao procedimento experimental de retirada do ovário e na reinserção de fragmentos da glândula no tecido subcutâneo, localizado na face interna da coxa da própria paciente. Dessa forma, fora no campo atingido pela radioterapia, é possível que os fragmentos criem uma nova vascularização e mantenham sua produção hormonal.
O estudo está em andamento e tem resultado previsto para 2025. Alguns relatos de caso já foram publicados pelo grupo de pesquisadores.
A pesquisadora e ginecologista oncológica pelo ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), Marília Bertolazzi, explica que o principal objetivo do procedimento é devolver a qualidade de vida e prevenir os malefícios da doença em pacientes jovens. “Quando a gente tem um paciente jovem com câncer, o tratamento não é tranquilo. É doloroso fazer radioterapia, além de outros efeitos colaterais. Então, quando a gente consegue reduzir esses efeitos colaterais de menopausa abrupta e artificial, a gente percebe que há até uma maior motivação e adesão ao tratamento oncológico.”
Já existem técnicas cirúrgicas que visam a preservação dos ovários, como é o caso da transposição ovariana – afastamento dos ovários para uma parte superior a pelve – entretanto os resultados nem sempre são positivos.
Dessa forma, com baixo custo e técnica cirúrgica simples, espera-se que o implante do tecido fresco seja uma alternativa viável para garantir a produção hormonal adequada de pacientes que por vezes sofrem com a falta de acesso aos medicamentos para reposição hormonal ou que sequer possuem o tratamento prescrito.
Sobre o Câncer de Colo de Útero
Vale relembrar que o câncer de colo de útero ocorre com infecções prevalentes de alguns tipos de Papilomavírus Humanos (HPV), que são sexualmente transmitidos. Com a adoção de métodos preventivos, a realização periódica do exame papanicolaou e da vacinação contra o HPV, estima-se que com o tempo o número de registros de casos de câncer cervical diminuam.
“Muito provavelmente, vamos viver um futuro com muito menos casos de câncer de colo de útero. Mas para nossa realidade no Brasil, isso ainda levará muitos anos para acontecer”, afirma a especialista Marília Bertolazzi, ao lembrar as dificuldades da cobertura vacinal e de grupos antivacina no país.
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